Ele há coisas neste país…
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.
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Estagiário Procura-se
Ou melhor dizendo: “Escravo procura-se”.
Cheira-me, palpita-me, tenho uma ligeira impressão, de que o país está a ser gerido à base de estágios não-remunerados.
Há meses que, diariamente, consulto anúncios de recrutamento e, com uma frequência impressionante, esbarro em anúncios de “Estágios não-remunerados” ou “Estágios curriculares”.
Bonitos eufemismos, estes…
Passo a explicar: em todas as empresas há tarefas chatas que ninguém quer fazer. São chutadas de um lado para o outro até alguém chegar à conclusão de que, apesar de tudo, é necessário cumprir com essas tarefas. Mas, se ninguém quer “sujar as mãos”, como se resolve este problema?
Contratando um estagiário, de preferência a custo zero.
Os jovens universitários adoram estes estágios, vendidos pelos seus respeitáveis professores como “portas de entrada para o mercado de trabalho”. O problema, é que a maior parte desses respeitáveis professores nunca trabalharam na vida e, de forma irresponsável, mais que professores, são vendedores de sonhos.
Conclusão, o estagiário, na prática, é um escravo. Trabalha de borla (às vezes, nem as despesas de transporte e alimentação lhe são asseguradas), faz o trabalho que mais ninguém quer fazer e depois, findo o período do estágio, recebe um chuto no rabo “muito obrigado e bom dia.”
No dia seguinte, mais um escravo é contratado e as empresas lá vão sobrevivendo…
“Case Study”
Na empresa onde trabalhei durante seis anos, por causa da crise, foram despedidas dezenas de pessoas, em meados do ano passado. Poucos dias depois, a dita empresa começa a publicar anúncios de “Estágio não remunerado”.
“No further questions, your honour…”
Mamma Mia… ou como destruir as canções dos ABBA
Domingo passado, na viagem da Banda Fórum para Arazede, alguém se lembrou de pôr a rodar no DVD da camioneta o filme “Mamma Mia” e, a primeira conclusão a que cheguei foi: “ainda bem que não paguei para ver isto!”.
Antes de falar do filme, é importante falar dos ABBA. O quarteto sueco foi um marco na História da Música. Nos meus tempos de faculdade, quando era forçado a sair à noite para uma qualquer discoteca, lamentava-me da fraca qualidade da música de dança dos dias de hoje. As minhas amigas diziam “isto é música para dançar, não tem que ser muito elaborada…” e eu respondia: “os ABBA faziam música de dança, com belas melodias, orquestrações, ritmo e poesia!”. De facto, os ABBA combinavam, da forma que só os génios sabem, todos os ingredientes para criar grandes canções. E depois, a interpretação das duas cantoras do grupo, conferia às músicas uma força transcendente. Quase que me arrisco a dizer que, para perceber as canções dos ABBA, quase que nem precisamos de perceber inglês. Prova disso foi a forma como as músicas dos ABBA me fascinam desde muito novo.
E agora… o filme! O filme começa com mulheres aos gritos, tem mulheres aos gritos durante todo o tempo e termina… felizmente não vi até ao fim, porque a camioneta chegou ao destino.
Contudo, vi o suficiente para perceber que “Mamma Mia” consegue desvirtuar o sentido profundo de cada uma das canções dos ABBA: primeiro, porque as mesmas são metidas a martelo na história… se é que se pode dizer que este filme tem história; segundo pela péssima interpretação vocal dos actores. Ok, eles cantam todos muito afinadinhos, mas se cantar bem fosse só cantar afinado… Na maior parte dos casos a interpretação simplesmente não existe e, quando existe algo a que se pode chamar “interpretação”, esta é completamente desfasada da canção em causa.
Enfim, um marco negro na caseira de dois brilhantes actores: Meryl Streep e Pierce Brosnam.
Está na hora de ir ouvir os autênticos ABBA e esquecer o filme rapidamente.
Dia dos namorados
Segunda-feira passada, deambulava eu pelos lados de Arca D´Água, quando sou apanhado numa fila de trânsito, originada por um sinal vermelho. No carro à minha frente um simpático casal trocava uns beijitos, beijitos que se foram transformando em valentes linguados e, por pouco, pensei que a coisa ia evoluir ainda mais. Entretanto, o sinal ficou verde mas, os loucos apaixonados, não descolaram! Aguardei uns breves segundos, até que fui forçado a dar uma ligeira buzinadela. Não o fiz com prazer, pois sou totalmente apologista de calorosas demonstrações de amor. Contudo, eu queria andar para a frente e o sinal estava verde.
Suponho que aquele casal irá aproveitar ao máximo o dia de hoje. Como é sábado, vão passear de mãos dadas, jantar fora, trocar prendinhas e, depois, acabar a noite num motel ou, como os tempos são de crise, com o carro parado num sítio bem tranquilo, frequentado por centenas de outros casais com as mesmas intenções eróticas… e alguns voyeurs pelo meio.
Para mim, o dia dos namorados é traumático. Na adolescência, enquanto meia escola vagueava pelos corredores com olhar perdido nas nuvens, eu limitava-me a ficar a um canto, meditando nos meus amores não correspondidos.
Depois, quando aos dezanove anos tive a minha primeira namorada (ok, podem começar a rir às gargalhadas… não tenham compaixão!), sentia-me feliz por finalmente poder festejar o dia catorze de Fevereiro, mas era algo que me sabia a plástico, como a comida de alguns restaurantes. Há aqueles restaurantes em que parece que estamos a comer a comidinha da nossa mãe, e outros em que parece que a refeição foi aquecida no micro-ondas. Pronto, o dia dos namorados sabia-me a micro-ondas. Ao passo que outras datas, ou acontecimentos, sabiam-me bem mais a comida caseirinha. Conclusão, quando a Ana partiu da minha vida (era esse o nome dela), resolvi que nunca mais na vida iria ao micro-ondas pegar no dia dos namorados.
Uns tempos mais tarde, quando comecei a namorar com a minha actual namorada e esposa, descobri que ela também não gostava do dia dos namorados, principalmente por ser uma “tradição” importada, como o dia das bruxas e outros.
Decidimos criar a nossa própria tradição que, basicamente, consiste em surpresas inusitadas um ao outro, em datas perfeitamente vulgares. E é algo de espectacular! Vivemos o dia dos namorados no dia 6 de Fevereiro, 23 de Março, 10 de Agosto… sei lá… quando nos apetece e não quando a máquina comercial diz: “é agora!”.
Por outro lado, aqueles coraçõezinhos, ursinhos, florzinhas e coisinhas todas, é um universo um bocado… pindérico, não acham?
Eu acho!
Naquela madrugada
Soubeste ser quem eu queria
Soubeste dar sem receber
Soubeste amar-me em magia
Na música que ouvia
Um poema que lia
Na madrugada a nascer
Disseste ternura em segredo
Disseste amor sem ter medo
Disseste um sim de verdade
Juntos fomos a cidade
Na pura liberdade
Em eterno degredo
Em ti eu mato a solidão
Em ti sucumbo à paixão
Em ti eu morro em desejo
À claridade de um beijo
Nos teus seios me protejo
E venço a escuridão
Naquela madrugada
Vieste sem temer
Naquela madrugada
Em ti fui-me perder
Senti-me um novo homem
Pelo teu corpo de mulher
Let’s Groove Big Band!
Na Feira de Artesanato da Foz:
Sagres ou Super Bock
Ou foi impressão minha, ou acabaram de passar na televisão dois anúncios, um da Sagres, outro da Super Bock, ambos com a mesma mensagem: “Somos a cerveja número 1 em Portugal”.
Logo, é preciso alguém desempatar e eu acho que sou a pessoa indicada:
– Super Bock, sem dúvida!
Agora vou dormir.
Eu não sei andar de mota…
Se há coisa que me deixa um pouco agastado, são aquelas pessoas que emitem opiniões sobre assuntos para os quais não estão minimamente preparadas. Falam por falar, só porque querem dizer alguma coisa, não têm argumentação válida e, depois, só saem disparates.
Conheci alguém que disse: “como eu não sei andar de mota… não ando de mota”.
Ultimamente tenho visto muita gente que “não sabe andar de mota” mas que age como se fosse o Valentino Rossi.
Se, nalguns casos, é pura ignorância, noutros trata-se apenas de uma espécie de exibicionismo intelectual que conduz a afirmações ocas e despropositadas, sobre os mais diversos assuntos.
Uff…