Aviso prévio: as óperas de Wagner são longas. Logo, este “Clássico” também vai ser. Tirem uns bons minutos para ler e ouvir.
Depois de uma longa ausência, volto aos “Clássicos Filarmónicos” para abordar uma obra sobre a qual sempre quis falar, mas da qual me faltava um bom registo sonoro e visual.
“Lohengrin” é um clássico, não por ter sido uma obra muito tocada no passado, hoje em dia ainda menos, mas por se revestir de uma aura de inacessibilidade, daquelas partituras só ao alcance das grandes bandas. Um velho amigo meu, por exemplo, para referir a qualidade da sua banda dizia sempre “nós tocamos o «Lingrin»!»
Nunca os ouvir tocar o tal «Lingrin», mas a verdade é que poucas bandas tinham a obra na estante.
Felizmente para mim e, permitam-me a ousadia e vaidade, para o nosso universo filarmónico, o Maestro Hugo Oliveira lançou a sua seleção da ópera de Wagner no reportório da Marcial de Fermentelos, para a época 2023.
«Conheci o Lohengrin na década de 90 quando comecei a tocar nas filarmónicas, na banda da Trofa. Nessa época, e apesar de já estar “reformado”, o prof. Gomes era sempre convidado pelo maestro Francisco Ferreira para dirigir duas peças do repertório da banda: Ecos de Espanha e Lohengrin.
Apesar de ser um puto que estava a começar, sentia já que quando o prof. Gomes subia ao palco a banda era, imediatamente, outra, e no Lohengrin era algo de único.
A minha paixão pela obra vem desde aí…
Passado uns anos, quando fui maestro na ACMA, após concluir o arranjo da “Boris Godunov“, dediquei-me a transcrever o Lohengrin, tendo como base o arranjo que se tocou na Banda de Música da Trofa e também a partitura da ópera que obtive no IMSLP. Para isso, ouvi a ópera na íntegra (nunca o tinha feito) e fui apontando as secções que gostaria de acrescentar. Comecei o trabalho, demorou uns meses valentes. Cada secção era melhor que a anterior e quando dei por mim… Tinha quase meia-hora de música!…
Nunca tive a oportunidade de a trabalhar na ACMA, mas na Marcial de Fermentelos consegui fazê-lo. Não tocamos o arranjo na íntegra, porque senão, em despique, monopolizavamos o tempo do concerto só pra nós! Talvez um dia me arrisque a fazê-lo em concerto…»
…e, caro Hugo, o arranjo está soberbo, resulta muito bem tanto em arraial, como em concerto. Contudo, permite-me destacar dezasseis compassos. Aqueles dezasseis compassos, já perto do final, sempre em crescendo. Um crescendo contínuo de intensidade e daquela emoção tão Wagneriana. Um momento de elevação para quem ouve e para quem toca.
No ano em que se assinalam 210 anos do nascimento e 140 da morte de Wagner, faz todo sentido recuperarmos “Lohengrin”, estreada em Weimar, Alemanha, a 28 de agosto de 1850 sob direção de Franz Liszt, amigo próximo de Wagner que, para além da música, escreveu o libreto.
“A história de Percival (ou Parsival) e seu filho Lohengrin, o cavaleiro do cisne, provém da literatura medieval germânica, especialmente do Parzival, de Wolfram von Eschenbach, e da sua continuação anónima, Lohengrin, inspirada na saga de Garin Le Lorrain (ou Garin le Loherin), a qual integra a Gesta dos Lorenos, ciclo de cinco canções de gesta dos séculos XII e XIII, escritas em loreno românico.
O enredo decorre durante a primeira metade do século X no Ducado de Brabante (na atual região de Antuérpia, Bélgica, no rio Escalda). O falecido duque do Brabante confiara seus herdeiros – Elsa e Gottfried – à tutela do conde Frederico de Telramund. Frederico deveria ter esposado Elsa, mas, tendo sido recusado por ela, casa-se com Ortrud, descendente de uma estirpe de príncipes pagãos, cujas divindades são dotadas de poderes mágicos. Para vingar a afronta sofrida por seu marido e para que este possa herdar o ducado, Ortrud transforma Gottfried em cisne, convencendo Frederico a acusar Elsa de fratricídio.” (fonte: Wikipedia)
Aqui fica a seleção da ópera “Lohengrin” de Richard Wagner, por Hugo Oliveira, numa interpretação da Banda Marcial de Fermentelos e registo de Damião Silva.