António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Como te chamas?

Outubro 19th, 2008

nome.jpg

Sei que tens um nome
Registado
Que alguém para ti escolheu
Mesmo antes de seres quem és

Mas eu quero o teu verdadeiro nome
O nome secreto
O nome que só tu tens para ti

Vá…
Diz-me como te chamas
Quero chamar-te assim
Quando acordares ao meu lado
Quando me disseres “até logo”
Quando voltares a casa
Quando estivermos envoltos em amor

Quero conhecer-te com o nome que ninguém conhece
E sentir-te como ninguém jamais te sentiu

Diz-me o teu nome
O teu verdadeiro nome

Explosão

Outubro 18th, 2008

explosao.jpg

Explodi na tua mão
Com a força da granada
O som do trovão
E meu corpo arqueou-se
E meus lábios beijaram-te
Dizias que me amavas
Por entre trocas de carinho
Entre a tua língua e a minha

Agarrei-te
Prendi-te em mim
Não fujas
És minha
Tua, sou tua!

O meu olhar penetrou no teu
A força da tua mão não me deixou fugir
Levaste-me para longe
E não voltei
Não voltamos
Vivemos do outro lado

Pequena história de uma vida

Outubro 17th, 2008

Vamos chamar-lhes Maria e Manuel. Durante os anos 50, Portugal mandou-os para Angola.
Lá construíram a sua vida. Depois de algum tempo a trabalharem por conta de outrem, conseguiram estabelecer-se, gerindo um restaurante. Não eram ricos mas viviam confortavelmente.
Veio a Guerra. Em frente do seu restaurante e da sua casa caíram bombas.
Veio o 25 de Abril, Portugal e os angolanos obrigaram-nos a regressar. Portugal retirou-lhes tudo o que tinham construído em anos e anos de trabalho.
Chegaram a Portugal, mas Portugal não dava trabalho a retornados.
Então emigraram.
Agora, a entrar na velhice, querem regressar ao país que constantemente os expulsou. Querem regressar. Mas, o sistema de saúde não funciona, os condutores portugueses são perigosos e a carga fiscal é brutal. Tudo isto, comparado com aquilo que têm actualmente…
Portugal é um país ingrato.

Alucinação

Outubro 14th, 2008

floresta.jpg

Dói-me a cabeça. Pesa-me, envolta num turbante de pensamentos e ideias. Mata-me estar longe de ti. Mata-me ver-te e não te tocar. Mata-me saber que, neste momento, me desejas e, neste momento, não me podes ter.

Dói-me a cabeça e há algo de inquietante nos meus lábios. Também eles cansados, também eles perdidos na distância que nos separa. Sabes… sempre que estou contigo sinto que são os meus lábios o órgão mais poderoso do meu corpo. Eles impelem-me para ti.

Pensando bem, são os teus lábios o órgão mais poderoso do meu corpo.

Abro uma pasta no meu computador que tem o teu nome. Desfilas diante de mim. Sorris para mim, da mesma maneira, com o mesmo brilho de quanto estás comigo.

Faço zoom… até aos teus lábios, até aos teus olhos, até ao teu cabelo. É piroso dizer isto, mas é este triângulo que me apaixona.

Tens um cabelo lindo, sabias? Sim, já te disse, mas quero dizer outra vez.

Vem, senta-te ao meu lado e deixa-me ficar no teu colo. Há uma paz infinita quando repouso em ti, como quando fazemos amor e depois do êxtase penetramos mais fundo um no outro. Envolves-me com os teus braços e repetidamente dizes que me amas e ao ouvir-te o êxtase repete-se.

E, de repente, a dor passou. Às tantas ainda dói, mas quero lá saber. Quando estou contigo, não há mais nada.

Antes de te ter, sonhava contigo, sem saber se quer quem tu eras. Durante muito tempo, sentei-me na falésia à tua espera.

Até ao dia em que vieste e te sentaste ao meu lado. A falésia desapareceu e mergulhamos no fundo do mar. Visitamos reinos coloridos, onde havia música, festa, alegria! Num salto voamos até à via láctea. Por vezes, fomos atraídos para buracos negros mas, nessa altura, beijaste-me e senti que os teus lábios são o órgão mais forte do meu corpo.

Voamos pelo sistema solar, descansamos nas estrelas e apanhamos boleia de cometas.

Estava na hora de voltar à Terra. Mostraste-me rios, lagos, montanhas, florestas… Disseste “estou cansada” e dormimos debaixo de uma árvore. Acordaste-me com um beijo e colheste-me frutos que comemos os dois.

Disseste “vamos viajar de novo”. Sorriste. Despiste-te e despiste-me. O teu corpo nu foi a visão mais maravilhosa que tive, mais brilhante que as estrelas, mais mágico que o fundo do mar. Ali, no meio da floresta parecia que dela sempre fez parte.

Novamente, fui atraído pelos teus lábios e na sombra da mesma árvore fizemos amor. Oh, que viagem inesquecível! Primeiro foste meiga, terna e carinhosa. Mas a loucura do desejo fez-te fazer e dizer coisas que já nem nos lembramos. E depois… foste criança e eu protegi-te. Foste tu que ficaste no meu colo e sentenciaste que o nosso amor era para sempre. Disseste “quero viajar contigo, por todo o Universo, sem parar”.

Então, eu dei-te a mão e levei-te. Viajamos.

Somos um só e, por isso, quando estamos longe os nossos corpos doem. Em grande parte pela força que os nossos lábios fazem, na vã tentativa de se unirem.

Dói-me a cabeça. Neste momento, dormes. Eu vou já ter contigo, porque sei que em sonhos esperas por mim…

Da próxima vez que dormirmos debaixo de uma árvore, não me dês frutos! Alimenta-me com os teus lábios… para viver não preciso mais nada. Com eles não sinto fome nem dor…

Já não me dói a cabeça…

Conversas parvas IX

Outubro 12th, 2008

Senhora 1:

Eu não acredito na Igreja Católica, porque não acredito que a Nossa Senhora seja Virgem! É impossível uma criança nascer sem intervenção do homem. É impossível!

A mesma Senhora 1, um minuto depois:

Só vou à Igreja em Fátima. Em Fátima, sim! Lá é que é bom! Até já fui a pé e tudo! Sou muito devota da Nossa Senhora de Fátima

Conclusão:

A Senhora 1 não acredita que Maria tenha engravidado pelo poder do Espírito Santo, pondo por isso em causa toda a Doutrina da Igreja Católica. Contudo, a mesma Senhora 1 vai a pé a Fátima (recorde-se: um santuário Católico) e acredita que a mesma Maria, apesar de não poder engravidar pelo Espírito Santo, pode aparecer 1917 anos depois, a três pastores, em cima de uma árvore…

Lápis

Outubro 11th, 2008

lapis.jpg

Um dia
Voltei a escrever a lápis
Desliguei o computador
Desfiz-me da velha caneta

O lápis é genuíno
O lápis é melhor do que a vida
O lápis pode ser apagado
Tem consigo o estigma do rascunho

O lápis é natural
Naturais moléculas de carbono

O lápis é musical
Haverá som mais…
Mais…
Irrequieto que um lápis a dançar no papel?

O lápis morre
Vai escrevendo
Vai mingando
Vai ficando mais nosso
Como se ao imprimir-se no papel
Se transformasse num órgão do nosso corpo

Um dia
Voltei a escrever a lápis
Ele estava ali
E guiado por um impulso peguei nele

Estava tão afiado
Que de imediato
Abri o caderno e risquei
Risquei
Risquei
Risquei

Escrevi uma dezena de disparates
Com o lápis
Sobre o lápis
Sobre o papel

Numa tarde de Outono…

Outubro 7th, 2008

Naquela tarde, de meigo Sol outonal, ele estava só. Sentia-se desnorteado, perdido e um terrível medo ensombrava o seu coração.
Pegou no telemóvel, ganhou coragem e escreveu tudo o que sentia. Veio a resposta:

– Queres ir passear, meu amor?

Combinaram a hora e o local de encontro.

Mal o viu ao longe, no seu rosto nasceu um sorriso. Nele também.

Há muito que sonhavam com aquele momento. Até já tinham falado em ir àquele local.

Beijaram-se. Passearam de mãos dados e beijaram-se outra vez e muitas outras vezes.

– Eu amo-te!
– Eu amo-te!

E beijaram-se de novo. Perdidos no bosque, fizeram amor. Sorriram.

Deram as mãos e foram embora.

Quando se despediram, à porta de casa dela, a Princesa deu aquele sorriso “sou a mulher mais feliz do Mundo” e bos olhos dele brilhou o olhar “ela é tão linda”.

As costas voltaram-se. Mas nem uma sombra de tristeza sequer lhes tocou. Tinham vivido a melhor tarde das suas vidas.

Viveram o seu amor como nunca tinham vivido antes. E sabiam que nada os iria separar.

– Gostaste, meu amor?
– Foi tão bom…
– Parece que o Mundo desapareceu e só nós existimos…

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.