António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Alucinação

Outubro 14th, 2008

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Dói-me a cabeça. Pesa-me, envolta num turbante de pensamentos e ideias. Mata-me estar longe de ti. Mata-me ver-te e não te tocar. Mata-me saber que, neste momento, me desejas e, neste momento, não me podes ter.

Dói-me a cabeça e há algo de inquietante nos meus lábios. Também eles cansados, também eles perdidos na distância que nos separa. Sabes… sempre que estou contigo sinto que são os meus lábios o órgão mais poderoso do meu corpo. Eles impelem-me para ti.

Pensando bem, são os teus lábios o órgão mais poderoso do meu corpo.

Abro uma pasta no meu computador que tem o teu nome. Desfilas diante de mim. Sorris para mim, da mesma maneira, com o mesmo brilho de quanto estás comigo.

Faço zoom… até aos teus lábios, até aos teus olhos, até ao teu cabelo. É piroso dizer isto, mas é este triângulo que me apaixona.

Tens um cabelo lindo, sabias? Sim, já te disse, mas quero dizer outra vez.

Vem, senta-te ao meu lado e deixa-me ficar no teu colo. Há uma paz infinita quando repouso em ti, como quando fazemos amor e depois do êxtase penetramos mais fundo um no outro. Envolves-me com os teus braços e repetidamente dizes que me amas e ao ouvir-te o êxtase repete-se.

E, de repente, a dor passou. Às tantas ainda dói, mas quero lá saber. Quando estou contigo, não há mais nada.

Antes de te ter, sonhava contigo, sem saber se quer quem tu eras. Durante muito tempo, sentei-me na falésia à tua espera.

Até ao dia em que vieste e te sentaste ao meu lado. A falésia desapareceu e mergulhamos no fundo do mar. Visitamos reinos coloridos, onde havia música, festa, alegria! Num salto voamos até à via láctea. Por vezes, fomos atraídos para buracos negros mas, nessa altura, beijaste-me e senti que os teus lábios são o órgão mais forte do meu corpo.

Voamos pelo sistema solar, descansamos nas estrelas e apanhamos boleia de cometas.

Estava na hora de voltar à Terra. Mostraste-me rios, lagos, montanhas, florestas… Disseste “estou cansada” e dormimos debaixo de uma árvore. Acordaste-me com um beijo e colheste-me frutos que comemos os dois.

Disseste “vamos viajar de novo”. Sorriste. Despiste-te e despiste-me. O teu corpo nu foi a visão mais maravilhosa que tive, mais brilhante que as estrelas, mais mágico que o fundo do mar. Ali, no meio da floresta parecia que dela sempre fez parte.

Novamente, fui atraído pelos teus lábios e na sombra da mesma árvore fizemos amor. Oh, que viagem inesquecível! Primeiro foste meiga, terna e carinhosa. Mas a loucura do desejo fez-te fazer e dizer coisas que já nem nos lembramos. E depois… foste criança e eu protegi-te. Foste tu que ficaste no meu colo e sentenciaste que o nosso amor era para sempre. Disseste “quero viajar contigo, por todo o Universo, sem parar”.

Então, eu dei-te a mão e levei-te. Viajamos.

Somos um só e, por isso, quando estamos longe os nossos corpos doem. Em grande parte pela força que os nossos lábios fazem, na vã tentativa de se unirem.

Dói-me a cabeça. Neste momento, dormes. Eu vou já ter contigo, porque sei que em sonhos esperas por mim…

Da próxima vez que dormirmos debaixo de uma árvore, não me dês frutos! Alimenta-me com os teus lábios… para viver não preciso mais nada. Com eles não sinto fome nem dor…

Já não me dói a cabeça…

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