António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Crónicas de Crestuma, o Centro do Mundo – III

Abril 25th, 2009

O texto que abaixo transcrevo é o discurso que fiz hoje de manhã na Sessão Solene das Celebrações do 25 de Abril em Crestuma:

“35 anos depois da Revolução dos Cravos, constatamos, com alguma amargura, que Portugal ainda tem muito que aprender, no que diz respeito à Democracia e às suas boas práticas. De facto, a política portuguesa ainda denota  resquícios do poder ditatorial, uma tendência para o desrespeito e mau uso das instituições democráticas e uma compreensão errada daquilo que foi a maior conquista de Abril: a liberdade de expressão.

Normalmente, neste tipo de cerimónias prefere-se a exaltação dos valores democráticos e de tudo de bom que Abril nos trouxe como se, 35 anos depois, vivêssemos num mar de rosas político.

Contudo, hoje prefiro aqui recordar-vos que, infelizmente, o panorama democrático nacional não é tão risonho, como muitos insistem em pintar. A democracia portuguesa sofre, quase que diria mesmo, agoniza e, ironia do destino, é com o aproximar de actos eleitorais que se vê o quão pobre é a nossa democracia. A culpa não é da democracia em si, mas de todos aqueles que dela se aproveitam, usam e abusam, para atingir fins pessoais, esquecendo que é para servir o povo que a democracia existe. Foi a pensar no povo que, em 25 de Abril de 1974, um grupo de homens materializou o anseio de Portugal pela Liberdade.

Actualmente, vivendo o nosso país uma recessão económica que há muito não se via, com crises sociais a começarem a vir ao de cima, com o descontentamento da população a aumentar de dia para dia, somos confrontados com posturas inflexíveis e autistas por parte dos nossos políticos quando, o bom senso e as boas práticas democráticas sugerem exactamente o oposto: saber ouvir e saber dialogar.

Num dia diz-se “o povo é quem mais ordena”, mas no dia seguinte ignoramos e desvalorizamos uma manifestação com centenas de milhares de pessoas;

um dia dizemos “foi o povo que escolheu”, mas no dia seguinte, deita-se ao desprezo toda uma classe profissional importantíssima para o progresso do país, como são os professores;

uma dia falamos em “pluralismo democrático”, mas no dia seguinte castigamos alguém por contar uma anedota, fazendo corar de vergonha o lápis azul da censura e fazendo revirar no túmulo aqueles que morreram pela liberdade.

Estamos perante sinais claros daquilo que é o poder pelo poder.

Depois, há os casos de total falta de respeito pelas instituições que Abril conquistou e ofereceu aos portugueses, principalmente no poder mais perto das populações, o poder autárquico.

Um dia, afirma-se não ter tempo para participar nas Assembleias de Freguesia, mas no dia seguinte já se é candidato a mais um mandato, ou até mesmo a  Presidente de Junta.

Um dia, alguém assume-se como candidato ao poder, mas, no dia seguinte, perdendo as eleições, não tem a dignidade e a postura ética de aceitar o lugar que o povo lhe atribuiu na oposição.

Não será isto, também, a procura do poder pelo poder?

São também exemplo da falta de princípios e valores democráticos, aqueles que usam as instituições políticas que Abril conquistou e nos ofereceu, não para ajudarem ao desenvolvimento das populações, não para promoverem a educação, a cultura, o bem-estar, mas apenas com o único objectivo de travarem guerras pessoais, concretizar planos de vingança, exorcizar ressabiamentos antigos, descredibilizar e ridicularizar os seus pares na praça pública. Há quem utilize as conquistas de Abril para proveito próprio ignorando de forma medíocre as necessidades da população que se propõem a servir. Incentiva-se a instabilidade, a maledicência e a demagogia e usa-se o eleitor como arma em desproporcionadas guerrilhas pessoais e políticas.

Mas, como cantou Zeca Afonso e toda uma geração “o povo é quem mais ordena” e, mais cedo ou mais tarde, os “cavalos de Tróia” desmontam-se e os traidores são desmascarados, porque, como diz o povo na sua imensa sabedoria, “a verdade vem sempre ao de cima”.

Há também os especialistas na implementação de micro-ditaduras em colectividades e associações, usando a nobre causa do associativismo, para outro tipo de fins, não tão nobres, delapidando ferozmente a herança histórica dos seus antecessores e, levando, muitas vezes, instituições seculares ao desaparecimento.

Por fim, há aqueles que abusam da liberdade de expressão para lançar a calúnia, escondidos sob a covarde capa do anonimato. Criticam tudo e todos, sem apresentarem uma ideia, um projecto, uma alternativa e, mais grave de tudo, sem apresentarem o próprio rosto!

Todos estes exemplos, bem concretos e reais da nossa sociedade actual, alguns deles bem próximos da nossa pequena Vila de Crestuma, são o exemplo de que a revolução ainda não terminou. Parece estranha esta afirmação vinda de uma coligação de direita mas, a liberdade, não tem esquerda nem direita; a ética, não tem esquerda nem direita; os princípios políticos e humanos não têm esquerda nem direita.

É contra tudo isto, senhoras e senhores, que a Coligação Gaia Na Frente se propõe continuar a lutar, como tem feito até aqui, nos últimos quatro anos.

Com uma postura séria perante a política e perante a democracia, sem embarcar no populismo fácil que outros adoptam. Estamos orgulhosos e de consciência tranquila com o trabalho realizado e que está à vista de todos, mas sempre com a consciência de que podemos, e devemos, fazer mais e melhor.

Trabalhamos por uma sociedade mais justa e igual em que os políticos sirvam as populações e não o contrário.

Trabalhamos por uma sociedade guiada pela coerência ética e pela honestidade intelectual.

Trabalhamos, porque o projecto daquela madrugada de há 35 anos atrás está longe de estar terminado, mas compete a cada um de nós, nas nossas vidas, nas nossas opções, na nossa interacção com o Mundo, fazer o verdadeiro 25 de Abril.

VIVA O 25 DE ABRIL!
VIVA CRESTUMA!
VIVA PORTUGAL!”

SMS

Abril 21st, 2009

Quando ele já não esperava, ela fê-lo sorrir.
Sentiu aquela inquietação pura de um amor adolescente.
Queria correr para ela, mas aquele gesto deixou-o tão calmo e feliz que, simplesmente, desfrutou.
Guardou o telemóvel e a partir daí tudo foi uma suave viagem.
Sentia-se amado e desejado. Querido. Sentido.
Era feliz e nada ia apagar essa sensação… por muito que tentassem.

Porque há sempre esperança…

Abril 21st, 2009

Ela tinha dito que não podia… naquele dia, não ia dar. Mas ele foi até ao ponto de encontro. Sabia que ela não ia, mas só o facto de estar naquele local, aproximava-o dela.
Chegou e ficou sentado.  Levantou-se e voltou a sentar-se.
Passou uma hora. Passou outra e mais meia.
Quando estava prestes a desistir, ouviu passos, olhou. Era ela! Sorria, como sempre, bela, indescritível.
Ele ficou imóvel. Ela abraçou-o.
Ela viera.

O triângulo

Abril 16th, 2009

Chegou a pensar ter decidido cedo de mais. Chegou a pensar ter cometido um erro. Mas a equação tinha sempre duas soluções.
Diziam-lhe que não, que era impossível: “só podes ter uma resposta certa”.
Mas ele tinha duas. Às vezes sentia-se confuso mas, a maior parte das vezes, sentia-se feliz. Adorava desenhar e redesenhar aquele triângulo. Sentia-se confortável por poder repousar sempre num dos lados, ou até mesmo nos dois.
Era um sistema complicado, arriscado, mas sempre com os mesmos valores de x e y.
Matemática pura. E ele que nem gostava de matemática.
Questionou-se muitas vezes. Seria necessário anular uma variável? Haveria algum lado desequilibrado? Às vezes ficava com um triângulo profundamente escaleno. Decidia remover um dos lados, mas só com duas linhas não há forma geométrica, não há aconchego, protecção.
Então, com régua e esquadro, redesenhava e contemplava o triângulo agora equilátero.
Poderia ter esperado por outras variáveis? Poderia ter simplificado ou complicado o sistema?
Talvez.
Mas nada seria como a equação com dois resultados.

Mas afinal…

Abril 15th, 2009

Há alguns anos atrás, da primeira vez que o Dr. Luis Filipe Menezes se candidatou à Câmara Municipal de Gaia, a principal arma do PS contra o candidato do PSD foi: “Esse homem não é de Gaia! É um pára-quedista!”

No entanto, o candidato que o PS apresenta às Autárquicas de 2009, também não é Gaiense. Pessoalmente, não tenho nada contra isso. Quem é competente, é competente em qualquer lado. Contudo, penso que a estrutura do PS-Gaia demonstra aqui uma enorme falta de coragem, principalmente Eduardo Vitor Rodrigues, que passou os últimos quatro anos a descascar no Dr. Menezes.

O mais natural não seria ele próprio enfrentar o combate nas urnas?

Não sei… é uma questão que fica.

Ainda as famosas “escutas”

Abril 11th, 2009

1 – Diz o meu amigo Indy que a justiça em Portugal é uma vergonha. Concordo! Só num país como Portugal é que andam os tribunais a perder tempo e dinheiro com base num livro escrito por uma prostituta. Em qualquer outro país civilizado, o ninguém com o mínimo de bom senso reabriria um processo, anteriormente arquivado, com base no “depoimento” de alguém sem o mínimo de credibilidade. Só num país como Portugal, se movem processos com base na pura perseguição a pessoas, instituições, símbolos, povos de uma determinada região.

2 – Diz também o Indy que, no caso do “Apito Dourado” ainda não viu ninguém do FCP a desmentir as famosas escutas. Eu não desminto, porque não as conheço. Por isso mesmo, resolvi fazer uma pesquisa na net. Procurei, procurei, procurei as tão faladas escutas do Pinto da Costa. Ao fim de duas horas a chafurdar no Google, o máximo que consegui encontrar foi o texto que abaixo transcrevo num blog de fãs do Sporting:

As escutas telefónicas da PJ a Pinto da Costa :
“SALADA DE FRUTAS”

António Araújo (AA) – Ó senhor presidente, eu…eu…ligaram para mim a pedir-me fruta para logo á noite. Posso levar a fruta á vontade ?

Pinto da Costa (PC) – Já, foi mandada

AA – Mas a fruta é para dormir!… É o homem que vai ter consigo de tarde, o JP, é um rebuçado para logo á noite…

PC – Diga que sim senhor.

AA – Só estou a dar-lhe… a dar conhecimento, ao presidente, senão isso fica…é que eu…é que eu estou sempre a dispor, a dispor, também não há necessidade!

3 – É óbvio que se trata de uma conversa abstrata que pode ter 1.001 interpretações. Afirmar que Pinto da Costa é corrupto com base neste esquisito diálogo é um acto de desonestidade intelectual e má-fé.

4 – Outra coisa que vários Benfiquistas e Sportinguistas têm dito ultimamente, é que “toda a gente sabe que o PC é corrupto”. Mas, quando eu pergunto “e provas?” eles remetem-me para as tais escutas. Eu pergunto novamente “mas o que dizem as escutas?”. Resposta: “dizem que o PC é corrupto.”
Ou seja, nem eles sabem o que dizem as escutas mas, no entanto, afirmam com toda a certeza que o PC devia ir preso.

5 – Mais uma vez se prova a fragilidade de todas as acusações movidas contra PC e o FCP (ver o meu post anterior sobre esta matéria). Acusações construídas com base em mitos populares, fomentados pelos poderes de Lisboa, sem provas, sem credibilidade, sem matéria de facto. Já para não falar no ridículo de irem a tribunal com um jogo em que, quem foi roubado, foi o FCP!

6 – Contudo, mesmo perante todas as evidências jurídicas e legais, eles vão continuar a falar de “fruta”, envelopes, apitos, para explicar os seus fracassos desportivos, época após época, treinador após treinador, presidente após presidente.

7 – Esta semana um amigo meu, portista, dizia, comentando o castigo aplicado ao Lisandro López: “acho muito bem que o Pinto da Costa roube! Só roubando é que conseguimos competir em pé de igualdade com o Benfica e com o Sporting!”

No further questions your honor

Primavera

Abril 9th, 2009

Foi um beijo curto, até mesmo tímido, às escondidas, mas saborearam-no como se tivesse durado minutos.
Separaram-se e, horas mais tarde, cada um na solidão do seu quarto, ainda sentiam o sabor dos lábios do outro.
Acordaram com o mesmo sabor mas famintos por mais. Mas o beijo teria que ser apenas sentido e não dado.
Às vezes tudo fugia. Sentiam-se no abismo e parecia que nada os iria segurar. Então, agarravam-se à única coisa que tinham: aquele amor construído com tantas lágrimas mas, ao mesmo tempo, com tantos sorrisos.
O abismo desaparecia e tudo voltava a ser como devia ser. Os espinhos, a dor, ficaria para outra altura, mas agora era Primavera.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.