António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Ecos da Solidão

Agosto 10th, 2009

Pensava eu estar no meio de tanta gente, mas a multidão era o deserto.

Todos me abandonaram, deixando-me nas mãos do acaso e daquilo que a Fortuna quis fazer comigo.

Espancaram-me, feriram-me, sangraram-me e eu nunca virei a cara à luta.

Quando me julgavam morto, apareci no meio deles e de imediato a Morte atingiu-os sem piedade. Libertei-me, enfim, das garras da solidão.

Caminhei por cima dos cadáveres daqueles que me condenaram, espezinhando as vísceras, os ossos e o sangue daquela gente abjecta.

Limpei o mundo da podridão e descobri que só eu, apenas eu, poderia continuar aquela demanda infinita.

Não sei

Agosto 10th, 2009

Não sei

Que música ouvir

Que filmes ver

Que perfumes sentir

Que livros ler

Que muros subir

Que mundos conhecer

Que portas abrir

Que estradas correr

Que vidros partir

Que barreiras vencer

 

Não sei

Por onde andar

Viajar

Dançar

 

Quando tu não estás

E eu fico louco

E nada faz sentido

Anoitecer

Agosto 6th, 2009

É nessa hora que matamos o Mundo.

Voas comigo para outro planeta. Um planeta que os nossos sonhos desenharam num Universo que não existe.

Somos Deuses e ao sétimo dia descansamos, nos braços um do outro. Vimos tudo o que tínhamos feito. Era tudo muito bom.

No princípio era o Verbo e no fim só restam sorrisos, beijos soltos e suor.

Escuta!

Agosto 5th, 2009

São pessoas, meu cabrão!

Pessoas!

Que têm sentimentos, que pensam, têm vontade própria!

Não são objectos nas tuas mãos, nas cadeias da tua eterna e crescente prepotência!

Não são engrenagens na máquina do teu egocentrismo!

Porquê? Porque as fazes sofrer? És sádico? Dá-te prazer?

É bom vê-las chorar?

É bom vê-las de rosto cinzento e abatido?

Desaparece, pá!

Morre!

Crónicas de Crestuma, o Centro do Mundo – VIII

Agosto 2nd, 2009

A canoísta portuguesa Joana Vasconcelos conquistou este domingo, em Moscovo, o título mundial júnior de K1 500 metros, depois de na véspera ter conquistado a medalha de prata nos 1.000 metros.A atleta do Clube Náutico de Crestuma fez o pleno de pódios nas mais importantes provas internacionais, juntando estas medalhas ao título europeu em K1 1500 e ao bronze nos 1000 metros.

Joana Vasconcelos, que liderou toda a prova, conseguiu o ouro ao completar os 500 metros em 1.56,520 minutos, batendo a chinesa Jieyi Huang por 0,975 segundos e a húngara Timea Groholy-Orsolya por 1,478.

Em declarações à Agência Lusa, Joana Vasconcelos assumiu a satisfação para os resultados conseguidos, mas apontou a sua ambição para o futuro: «Sei que todas estas medalhas aumentam as minhas responsabilidades, mas só posso encarar isso com optimismo. Tudo isto é bom demais. O ouro e bronze nos europeus alimentavam-me esperanças de ir ao pódio nos mundiais, mas esta competição é ainda mais complicada. Estou nas nuvens», resumiu.

Nas oito provas em que competiu, Portugal sai dos mundiais juniores com uma medalha de ouro, outra de prata, cinco finais e duas finais B. A comitiva lusa regressa a Portugal nesta segunda-feira.

FONTE: www.maisfutebol.iol.pt

Legionário

Agosto 2nd, 2009

Nunca procurou o caminho fácil. Para ele as rectas eram a pior distância que poderia percorrer. A sua vida precisava de montanhas, abismos. Precisava ser ele a desbravar os caminhos para metas que mais ninguém compreendia.
Complicava.
Sempre complicava, mas porque desejava que a sua existência fosse uma história de conquistas.
Tudo o que era simples, não era para ele. Era preciso risco, dor, sofrimento até, mas tudo isso lhe garantia a glória na chegada.
Aí, refrescava-se nas gotas do seu suor. Olhava para as feridas e gozava com o ardor e o sangue a escorrer.
Como era agradável saber que tinha olhado a morte e vencido.
Depois de um breve descanso, com as feridas ainda mal saradas, atirava-se de novo à contenda.
E nos altos e baixos, na montanha russa que ele próprio tinha desenhado,  entregava-se a delírios insanos, que o anestesiavam. Assim, debruçava-se no abismo com um sorriso nos lábios, ria da arma apontada à testa e zombava dos mais ferozes inimigos.

A Mis el Adane

Julho 31st, 2009

E fiquei toda a noite a ver-te dançar.
Bebi mais um copo e deixei-me embalar pelo voo dos teus cabelos.
Estavas feliz, emanavas luz e parecias segura do destino de todo o Mundo.
E eu amei-te tanto ao som da nossa música.
Por momentos, fui eu quem agarrou aquele microfone e te jurei o meu amor mais que eterno, em notas soltas, presas por um ritmo cadenciado.
Fui o palco.
Tu foste as luzes.
Fui a voz.
Tu foste a guitarra.
Fiquei ao longe, a observar cada gesto, cada movimento do teu corpo, numa dança só tua e, ao mesmo tempo, só nossa.
Alguém disse “vi-te dançar e a minha paz morreu”, mas quanto mais dançavas, mais o meu coração atingia a paz que tanto procura.
Entreguei-me aos teus olhos e senti que me querias.
Por um breve instante, pareceu-me ler nos teus lábios… e tu sabes o que eu li.
Por um breve instante, senti que os nossos corações eram ímanes e que o abraço tão desejado era iminente.
Um beijo queimava nos meus lábios.
Era preciso soltá-lo.
Entregá-lo à tua dança que parecia não mais terminar, mesmo quando a música parava.
Eu soltei-o, sentiste?

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.