António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Espera pela Saudade

Fevereiro 3rd, 2010

Foi uma Primavera como nem a própria Natureza sonhara algum dia criar. O Mundo sorria e transformava-se para receber a vida. Eram cores, odores e sabores que inspiravam poetas e faziam música brotar do silêncio. Ternura.

Veio o Verão e o calor espalhou-se pelos campos. O Sol brilhava no céu, como grande imperador de um império invisível. Eram irrequietos riachos que retemperavam os seres vivos nos momentos extenuantes, antes do repouso merecido sob frondosas árvores. Fulgor

E foi no Verão, debaixo de um céu ornado de estrelas, que o Outono foi anunciado. As árvores despiam o seu vestido verde e puramente nuas guarneciam-se de jóias douradas e escarlate. A Natureza assumia uma beleza diferente, sem o fulgor do Verão, sem a ternura da Primavera, mas incorporando sentimentos de dias passados. Memória.

Chegou o Inverno e o frio apoderou-se dos recantos que ainda permaneciam aquecidos pela Memória do Verão. Tudo é gelo e nada mais resta a não ser fugir, esconder, hibernar e aguardar que a saudade faça voltar a Primavera.

Partida

Janeiro 27th, 2010

Vou cavalgar sem olhar pra trás
Só o meu ser sabe que é capaz
Queimar a capa da solidão
Partir o copo da ilusão

Vencer a dor do meu sangue a arder
Correr o mundo sem me perder
Sentir a força que há em mim
Beber a vida até ao fim

A multidão não me seduz
Entrego o corpo a uma só luz
Encontro a paz só num olhar
E a noite escura há-de findar

Ontem e hoje

Janeiro 26th, 2010

Longe vai o tempo, em que as minhas roupas voavam nas tuas mãos e me tomavas por inteiro.

Longe vão os dias, em que os lábios falavam sem palavras e as línguas eram poesia.

Longe vão as horas, em que a tua pele era o meu porto e o teu olhar o meu refúgio.

Longe vão os minutos, em que “amo-te” era pouco para um amor que era mais que ele próprio.

Longe vão os segundos, em que eramos apenas um grito.

E hoje sou teu por inteiro.

E hoje falamos sem nada dizer, em poesias invisíveis.

E hoje és o meu porto e o meu refúgio.

E hoje amo-te como nunca te amei.

E hoje somos sempre aquele grito.

La Belle Epoque no 15º aniversário de Cardoso & Conceição

Janeiro 25th, 2010

“Sim, a sua prestação faz jus ao romantismo que sugere o nome. Apetece dar um pezinho de dança ao ouvir o concerto desta orquestra recheada de jovens caras bonitas.
Assistir ao concerto de “La Belle Epoque” é sentir do primeiro ao ultimo tema, alegria, vivacidade, vontade de estalar os dedos, baloiçar as ancas, dançar. É recordar tempos áureos do Swing e outros estilos que foram marcantes e fizeram história em épocas de ouro do século passado.

Com constantes intervenções a solo (Saxofone, Trompete, Flauta, bateria e outros), a orquestra mantém sempre o público motivado para a audição do próximo tema. Os clássicos, Duke Ellington, George Gershwin, Glenn Miller, são alguns dos autores interpretados, com arranjos elegantes, de carácter dançante, que provocam emoções naturais de um ambiente de festas de salão. É muito agradável ouvir a orquestra.

Foi desta forma o quadro vivido no concerto comemorativo do 15º aniversário de C&C, sábado dia 23 de Janeiro, em Sta Maria da Feira no auditório da empresa.

C&C recomenda vivamente a “La Belle Époque” e agradece à direcção da orquestra a ao seu Maestro, António Pinheiro, a disponibilidade e o excelente concerto que proporcionaram.”

FONTE: www.bandasfilarmonicas.com

Em meu nome pessoal e em nome da La Belle Époque resta-me agradecer o convite e as elogiosas palavras. É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido.

“Eu trabalho, tenho um trabalho…”

Janeiro 25th, 2010

Infelizmente, nos dias que correm, nem todos podem pronunciar estas palavras. Uns porque não podem mesmo, outros porque não querem.

Cada um é livre de fazer o que quiser, mas irritam-me um bocado aquelas pessoas que não trabalham porque não querem, revestindo o seu ócio de uma intelectualidade inexistente. Depois,e com demasiado tempo nas mãos, há que dar largas à imaginação e ao disparate. O Nuno Markl queixa-se muito disto e com razão.

Às vezes vêm-se por aí coisas que surgem claramente da falta de algo útil para fazer. E aqui cai que nem uma luva aquele personagem dos Contemporâneos, interpretado por Nuno Lopes: “Vai mas é trabalhar…”

Eu posso, orgulhosamente dizer, como o Manel Carrapiço da novela da TVI: “Eu trabalho, tenho um trabalho…”

Aquelas noites

Janeiro 24th, 2010

Hoje é daquelas noites em que o meu corpo não sossega na cama. Ou por estar eufórico por mais um sucesso da La Belle Époque, ou pela ansiedade de mais um concerto que se aproxima, ou por ter comido como um alarve e o meu organismo ainda não querer repousar, ou por hoje não ter estado com as minhas V.E., ou simplesmente porque há alturas em que a minha cabeça tem dificuldade em parar.

Então vagueio pela casa. Vagueio pela net.

A net.

Estranho espaço este onde podemos ser quem quisermos, ou até podemos ser ninguém (como muitos preferem).

Eu prefiro ser narcisista e egocêntrico. Ter um blog, um site, uma página, para falar de mim, das minhas cenas, dos meus delírios, da minha visão das coisas. Ou, como hoje, das minhas insónias.

Ninguém é obrigado a visitar, muito menos a ler, ou a concordar. Se gostam, continuem a vir cá. Se não gostam, não caiam na tentação de voltar a digitar www.antonio-pinheiro.net novamente no vosso browser.

É tão simples, afinal.

Vou dormir…

P.S. – Tenho que fazer qualquer coisa para voltar a ter o número de acessos que tive em Setembro e Outubro de 2009… oi a loucura!

Whiskey Cola

Janeiro 17th, 2010

Sabia que aquela era noite, longe de suspeitar que seria a última. A primeira de muitas, pensaria.

Desejou-a todo o dia. Em encontros breves, trocavam olhares e ao mesmo tempo uma promessa. Uma promessa da noite mais quente das suas vidas.

Foi no bar, por entre amigos envoltos em conversas triviais.

Ele pediu a primeira bebida. Consumido pelo calor, absorveu o líquido, praticamente, de uma só vez. Respirou.

“Outro, por favor”.

O seu corpo cedia já ao impacto do álcool. Começava o estímulo físico, daquilo que há muito lhe habitava a mente. E ela estava tão perto.

O segundo foi saboreado com mais calma, discernindo o duplo sabor do despudorado cocktail. No fim da última gota estava já irrequieto. Os olhares eram cada vez mais intensos e parecia que os corpos já se tocavam. Fechando os olhos, sentia-lhe a boca, a língua, a pele, o odor.

Veio o terceiro e, ao pousar o copo na mesa, levantou-se decidido.

Quase que a arrancou do assento: “vamos!”

Faltava muito para chegar a casa, por isso começaram no carro, em andamento, aquilo que iriam terminar na cama, parados. Nem o excesso de alcoól, nem a excitação o faziam perder o controlo do veículo. Abrindo os olhos, sentia-he a boca, a língua, a pele, o odor.

Ela recebia-o na boca, enquanto ele a tinha nas mãos.

Pouco faltou para arrombar a própria porta de casa. Pouco faltou para as roupas serem reduzidas a trapos. Pouco faltou para que gritos estridentes despertassem a sonâmbula vizinhança. Pouco faltou para que o suor se transformasse num rio.

Até que veio o sémen, veio o repouso, veio a hora dela regressar a casa.

À dor de a ver partir, juntou-se a dor de nunca mais voltar.

Ao frio da noite, juntou-se o frio da distância.

À mágoa do pecado, juntou-se a mágoa da saudade

E depois viu aquele rosto nas estrelas.

Não, não podia ser apenas luxúria. A luxúria é apenas um cometa. Rápido, quente, flamejante.

Mas as estrelas são eternas. Brilham, mesmo que ocultas pela neblina.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.