António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Requiem dos vencidos

Agosto 2nd, 2010

A dor era suave
Profunda
Sentida nas mais escondidas entranhas
De um corpo cansado.

Derrotado.

Pela luta de uma guerra
Que já era perdida antes de declarada.

Doía lentamente
Surda
Mas mortífera.

Corria o sangue
E os corpos tombavam
Antes da dança dos gatilhos.

Estilhaços rasgaram
A última hoste
A última guarnição
O último baluarte
Da vitória que nunca viria
Da vitória que nunca existiu
A não ser nos loucos sonhos
De tão loucos soldados
Que loucamente acreditaram
Que a loucura seria lei

Vencidos procuravam palavras
Que pintassem aquela dor
Com uma cor mais real
Quiseram cinzelar na rocha
Cada esgar, cada gemido, cada lágrima
Eternizar nos mais perfeitos acordes dissonantes
Cada som de uma loucura banhada em suór

E lutaram
Mesmo depois da derrota
Mesmo sem adversário
Contra moinhos de vento
Contra eles próprios
E aniquilaram-se

Definitivamente?
Para sempre?

Ou até uma nova traição dos sentidos
Que declarasse uma nova guerra
Novas batalhas

E sangue?
Haveria mais sangue para correr?
Ou estariam os corações secos e vazios?

Secos… vazios… mas pulsantes
E rendidos à traição
Entregavam-se à luta
Sabendo sempre
Que só pode haver um resultado
A derrota…
Para que tudo comece…
Para que tudo recomece…

Ensaio sobre a coragem

Julho 7th, 2010

Há uns dois anos atrás, alguém disse: “o Pinheiro é um fixe, mas falta-lhe ambição”. Humildemente, reflecti sobre a frase e revi todo o meu percurso de vida. Listei todos os objectivos, todas as metas, tudo o que atingi e tudo o que falhei. Concluí que a minha ambição até era um pouco acima da média.

Hoje, recebi um SMS que, pretendendo ser ofensivo para com a minha pessoa, mostrou-me que eu sou um gajo corajoso como o caraças.

Quando era puto, e menos puto, os outros putos metiam-se comigo, por ter medo de bolas chutadas com força, por ter medo de cães, por ter medo, basicamente, de tudo e mais alguma coisa.

Ok… eu era um medricas. Contudo, houve algo onde nunca me acobardei: a defesa dos meus valores e das minhas convicções, mesmo sabendo que essa fidelidade a um conjunto de princípios poderia trazer-me dissabores a curto-médio prazo, como o SMS que “gentilmente” me endereçaram esta tarde.

Voltamos à velha questão da falta de argumentação que conduz à mentira, à difamação, ao insulto e, até mesmo à ameaça física. (para os mais distraídos, alguns textos aqui publicados há uns meses atrás valeram-me umas ameaças do tipo “vamos partir-lhe a cara toda”).

Ainda recentemente, há pouco menos de um mês, por fidelidade a uma pessoa a quem muito devo, alguém que, em três anos e meio, mudou a minha vida e me ajudou a ser uma pessoa e um músico melhor, tomei uma decisão que considero “corajosa”. Sabia, perfeitamente, que dois minutos após essa decisão ser pública, começaria o chorrilho de mentiras acerca da minha pessoa e atentados ao meu carácter. O facto é que esses “atentados” são, eles próprios, reveladores do carácter dos seus autores, ou seja, ao tentarem atingirem-me, cometem um acto suicida e aniquilam-se a eles próprios, como aconteceu esta tarde ao infeliz autor do SMS.

A decisão atrás aludida, para além de ser tomada em nome de uma forte amizade (algo que muita gente desconhece o que seja), foi tomada porque, se não a fizesse, iria contradizer valores que defendo publicamente há vários anos; se eu não tomasse essa decisão, iria ser infiel a mim próprio; se eu não tomasse essa decisão iria ser um verdadeiro cobarde.

Iria fazer o que outros fizeram: pensar uma coisa, fazer outra; iria render-me ao status quo; iria ser mais um robôt nas mãos de outros; iria deixar-me comprar como outros fizeram.

Hoje, por muitos SMSs que enviem, por muitos telefonemas que façam para amigos meus a dizerem “o Pinheiro é isto, é aquilo”, eu estou de bem comigo e de bem com o Mundo.

No próprio dia em que a bendita decisão foi tomada, recebi emails, SMS, telefonemas a darem-me os parabéns e palavras de incentivo para o futuro. Mensagens que ainda hoje vou recebendo.

Fechou-se uma porta, mas abriram-se inúmeras janelas. Sou hoje um homem mais “leve” e mais feliz.

Um sentimento que me inundou em Novembro de 2006, quando tomei uma decisão semelhante. Quatro anos depois, o filme repetiu-se quase na íntegra.

Mas, agora, sorrio. Sacudo o pó dos ombros e sigo em frente, enquanto os “porcos” insistem em “chafurdar no lodo” que eles próprios criaram.

Problema deles, não meu.

Eu tive a coragem de ser eu; tive a coragem de pensar com a minha cabeça; tive a coragem de defender as minhas ideias.

Ok, estou a armar-me aos cágados, mas é o que preciso deste momento. Acreditar em mim, no meu trajecto de vida, em tudo aquilo que já construí e vou continuar a construir. Afastar-me, definitivamente, de seres mesquinhos, pequenos e insignificantes que vagueiam pelo Mundo, girando em torno deles próprios.

Nota: Este texto, poderia, perfeitamente, ser reescrito citando, em vez da dita SMS que recebi hoje, um texto publicado há uns dois meses atrás na Internet, também ele sobre mim. Contudo, o autor desse texto (fiel seguidor deste blog), não merece tanta consideração de minha parte.

Onde?

Julho 4th, 2010

Não havia maneira de aquela noite arrefecer. O calor que, depois de um dia tórrido, vibrava ainda nas paredes, trazia ao meu corpo as memórias da nossa última noite. Uma noite com um dia de intervalo, para o meu corpo recuperar forças e para o meu coração recuperar a saudade.

Recordei cada centímetro da tua pele, cada olhar de ternura e paixão, cada gesto de entrega e partilha que só tu sabes criar.

Recordei a dança do teu cabelo e a força com que os teus braços me prenderam.

A noite não arrefecia e era eu que ficava cada vez mais quente. Desejo, amor, saudade… E eu ficava desperto, à tua espera…

Procurei-te no firmamento e calculei que não fosses tu a tímida estrela que brilhava sobre os montes.

Procurei-te no horizonte, ainda pintado pelo rubro do sol que se afasta.

Procurei-te na escuridão, mas o teu sorriso já mais se ofuscaria no breu.

Então, onde estarias tu?

Olhei para mim e vi-te finalmente.

Uma lição sobre comunismo

Julho 1st, 2010

Um professor de economia a exercer numa Universidade, num dado dia, disse:

– “Nunca chumbei um só aluno antes, mas, uma vez, chumbei uma turma inteira”.

Esta turma em particular tinha insistido que o comunismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e “justo”.

O professor então disse:

– “Ok, vamos fazer uma experiencia comunista nesta turma. Ao invés de dinheiro, usaremos as vossas notas em provas.”

Todas as notas seriam concedidas com base na média da turma, e, portanto seriam justas. Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém chumbaria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia 20 valores…

Logo que a média das primeiras provas foi tirada, todos receberam 14 valores. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram, ficaram muito felizes com o resultado.

Quando o segundo teste foi realizado, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam da média das notas, portanto, agindo contra as suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos.

Em resultado, a segunda média dos testes foi 10 Valores. Ninguém gostou.

Depois do terceiro teste, a média geral foi um 5 Valores.

As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela turma. A busca por ‘justiça’ dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No fim de contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da turma. Portanto, todos os alunos chumbaram… Para sua total surpresa.

O professor explicou que a experiencia comunista tinha falhado porque ela fora baseada no menor esforço possível da parte de seus participantes.

Preguiça e mágoas foi o seu resultado.

“Quando a recompensa é grande”, disse, o professor, “o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós, mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem o seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável.”

Fonte: http://ainanas.com/must-see/experiencia-comunista-na-sala-de-aula/

À noite…

Junho 27th, 2010

O teu nome é entoado pelas estrelas
Na lua o teu rosto é uma pintura
A noite é escultura do teu corpo

Estranha paz
Que a solidão da tua ausência evoca
E apenas memórias
Me fazem sentir-te em mim

E são as galáxias
Acordes de sinfonias sublimes
Vibrantes na perfeita inspiração que é amar-te

É já uma Fé este Amor que me prende a ti
Este prazer que sinto perdido
Queda livre em num mágico céu
Infinito e interior a dois seres
Dançantes ao ritmo da carne

Sente o cheiro da relva que nos embala
Sente o perfume das flores que beijas
Sente a minha mão que te leva
Por viagens irracionais
Por noites de sol radiante

Tão perto…

Junho 19th, 2010

Encontrei-te perdida numa noite em que o tempo parecia ter parado.
Encontrei-te num rosto de mil faces, que entre metamorfoses de sonhos, me dizia que a madrugada era a tua mão.
O cansaço abriu-me o espírito para te conduzir ao meu mundo.
Falei-te de beijos, de sorrisos, de suor e de palavras desconexas e despidas de significado.
Foram horas em que construi para ti o palácio onde agora habitas.
“Entra… estás em casa…”
E ao dar aquele primeiro passo o teu corpo tremia.
Precisavas de uma mão que te conduzisse, que te dissesse que ali só tu serias soberana.
E houve uma mão que te levou a um beijo tão doce e tão profundo que, quando as bocas se separam, tinhas levado todo o ar do corpo que abraçavas.
Agora era eu que tremia. Tremia com a ansiedade de aprisionar o teu olhar no meu coração. Tremia com a vontade de guardar cada centímetro da tua pele no toque dos meus dedos.
Deste-me tudo isso e muito mais. Deste-me o que não pedi, o que nem sequer sonhava possuir.
E depois de te encontrar, agora tão encontrada, agora num único rosto, agora numa única metamorfose vivida a dois, adormeci tão longe da noite e tão perto da madrugada.

Monte de entulho…

Junho 13th, 2010

Não sabia que título ia dar a este post. Então lembrei-me que os Deolinda estiveram quase para chamar “Monte de Entulho” ao seu novo álbum.

Apesar de andar com pouco tempo e sem grande assunto, senti-me na obrigação de escrever qualquer coisa, porque sei que tenho leitores fiéis.

(nesta altura, alguns dos meus leitores habituais estão a pensar: “finalmente, um título adequado ao que tu escreves…”)

1 – Três anos e meio depois, voltei a tomar uma decisão importante para a minha vida, baseada na fidelidade a uma amizade, no reconhecimento para com um trabalho, no respeito pelos meus princípios. E, acreditem que, apesar de difícil, deu-me uma enorme satisfação.

É tão bom saber e sentir que temos ideias próprias, um rumo para a nossa vida e que não somos apenas mais uma ovelha no rebanho.

É com uma certa pena que vejo pessoas que, até sendo inteligentes, se deixam controlar e manipular como bonecos articulados.

(neste momento, alguns dos meus leitores fiéis estão a pensar “já armou giga outra vez…”)

2 – Numa destas noites fui “perseguido” de carro. Um “piloto” qualquer resolveu encostar-se à minha traseira e pressionar-me para eu o deixar ultrapassar. Como não gosto desses tipos que, para compensar um pénis diminuto e a respectiva falta de sexo, usam a potência do carro, resolvi pôr “prego a fundo”.

Foi uma corrida interessante durante uns 5-6km, porque o “Fangio” não desistiu até ao cruzamento em que seguimos direcções opostas. Dizem os meus companheiros do carro que o “piloto” ia a rir-se. Fico feliz por contribuir para a boa disposição de alguém.

(nesta altura, alguns dos meus leitores habituais estão a preparar um extenso e elaborado texto em que me vão acusar de violar o código da estrada e incentivar ao excesso de velocidade).

3 – Ainda sobre as “quatro rodas”, hoje de tarde, depois de ter ido levar o meu amigo Nuno a casa, deparei-me com uma situação no mínimo caricata, no máximo ridícula. Veículo mal estacionado à beira-rio, ocupando meia faixa, fazendo com o trânsito se processasse de forma alternada nos dois sentidos. Uma confusão de todo o tamanho.

Normal, dirão vocês.

Não, não é normal, atendendo a que os proprietários do veículo, um casal idoso, se encontravam no seu interior, calma e tranquilamente. Ele a ler o jornal, ela a fazer croché, passivamente, enquanto à volta deles era a maior confusão de carros, manobras, buzinas…

(nesta altura, alguns dos meus leitores habituais estão a pensar “lá está ele a faltar ao respeito aos velhinhos…”)

4 – As vuvuzelas fizeram-me perder a vontade de ver futebol.

(nesta altura, alguns dos meus leitores habituais estão a pensar “logo agora que íamos organizar uma Masterclass destas gaitinhas…”)

5 –  A secção “Próximas actuações” está desactualizada. Assim, cumpre-me informar que a minha próxima actuação será com os Replay, nas Medas, nas comemorações do Rancho Folclórico local, na próxima sexta-feira, pelas 22h.

Depois, estarei com a Banda Marcial da Foz – Filarmónica do Porto, no dia 26, pelas 18h na Entronização dos novos Confrades da Confraria do Vinho do Porto (chique… não é?).

A Orquestra Ligeira “La Belle Époque” (dirigida por mim) estará no Encontro de Orquestras Ligeiras de Vagos (Praia da Vagueira), no dia 17 de Julho, pelas 21h30, juntamente com a fantástica Little Band de Vilela (dirigida pelo meu amigo Rui Leal) e a orquestras anfitriã.

Prevê-se uma excelente noite de música.

(nesta altura, alguns dos meus leitores habituais estão a pensar “lá está ele a armar-se…”)

E por hoje chega de entulho.

Boa semana a todos!

Para começar a semana…

Junho 6th, 2010

1 – Hoje fui à Casa da Música ver a Banda de Vilela. São poucos (raríssimos) os concertos a que assisto sem conseguir apontar pontos negativos… hoje foi um deles. Passe o exagero, do primeiro ao último minuto, tudo me pareceu perfeito na actuação da Banda de Vilela.

Para quem estuda, ou se interessa, pela Direcção Musical, o concerto de hoje foi uma verdadeira aula.

O Maestro José Ricardo Freitas provou, mais uma vez, que quem é bom não precisa de andar pelos quatro ventos a dizer “eu sou bom”, a exibir o C.V., ou a acenar com o cartão de aluno da escola onde estuda. “Basta” subir ao palco, pegar na batuta e deixar o talento fluir. É muito raro ver uma banda com tal entrosamento e cumplicidade entre músicos e maestro.

O reportório foi ambicioso, rico e variado. Houve praticamente tudo, até um medley e uma rapsódia!!!

E não tenho muito mais a dizer, a não ser que foi o melhor concerto a que já assisti por uma Banda Filarmónica.

Por fim, resta-me apenas deixar duas questões no ar:

a) Porque é que alguns “opinion makers” do meio filarmónico insistem em ignorar a superior qualidade da Banda de Vilela?

b) Porque é que quando citam nomes de grandes maestros, continuam a esquecer o nome José Ricardo Freitas?

2 – Descobri ontem que o dinheiro dos meus impostos é usado para pagar o Rendimento Social de Inserção a malta com sinais exteriores de riqueza e que trafica armas. Alguém me explica?

3 – Por vezes, assistimos ao mesmo filme duas vezes. A vantagem de assistir segunda vez é que, como sabemos o que vai acontecer, podemos sair a meio…

4 – Há uns tempos atrás, escrevi aqui sobre os MUSE. Os MUSE estiveram no Rock in Rio e eu vi que Deus existe.

5 – Finalmente, fui ao Sea Life. Gostei! O espaço está muito bem conseguido e sempre aprendemos mais alguma coisa. E eu que estive tão perto de ser o Director de Marketing daquilo… Ainda bem que não me escolheram: aquela zona é muito ventosa!

6 -Há Domingos que valem por toda uma semana…

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.