António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Requiem dos vencidos

Agosto 2nd, 2010

A dor era suave
Profunda
Sentida nas mais escondidas entranhas
De um corpo cansado.

Derrotado.

Pela luta de uma guerra
Que já era perdida antes de declarada.

Doía lentamente
Surda
Mas mortífera.

Corria o sangue
E os corpos tombavam
Antes da dança dos gatilhos.

Estilhaços rasgaram
A última hoste
A última guarnição
O último baluarte
Da vitória que nunca viria
Da vitória que nunca existiu
A não ser nos loucos sonhos
De tão loucos soldados
Que loucamente acreditaram
Que a loucura seria lei

Vencidos procuravam palavras
Que pintassem aquela dor
Com uma cor mais real
Quiseram cinzelar na rocha
Cada esgar, cada gemido, cada lágrima
Eternizar nos mais perfeitos acordes dissonantes
Cada som de uma loucura banhada em suór

E lutaram
Mesmo depois da derrota
Mesmo sem adversário
Contra moinhos de vento
Contra eles próprios
E aniquilaram-se

Definitivamente?
Para sempre?

Ou até uma nova traição dos sentidos
Que declarasse uma nova guerra
Novas batalhas

E sangue?
Haveria mais sangue para correr?
Ou estariam os corações secos e vazios?

Secos… vazios… mas pulsantes
E rendidos à traição
Entregavam-se à luta
Sabendo sempre
Que só pode haver um resultado
A derrota…
Para que tudo comece…
Para que tudo recomece…

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.