Parecia a primeira vez. Mas o nervosismo, quase pânico, da primeira vez, foi substituído pela doce ansiedade de fazer algo diferente.
Havia confiança, a segurança que algumas (poucas) horas de estudo podem dar mas, acima de tudo, a confiança que era transmitida por quem estava à nossa frente, ao nosso lado, atrás de nós e no público.
Principalmente no público, um, dois, três, quatro, cinco rostos a acenar e a dizer “estamos aqui… força!”
E essa força veio. Penetrou do primeiro ao último acorde. Fez acreditar que o céu estava ao alcance de uma pauta.
E mais sorrisos, aplausos e uma descarga elétrica percorria dois corpos unidos num só: o músico e o instrumento.
Um quente, pulsante, vivo… o outro frio, metálico, mas ardente e apaixonado quando beijado da forma certa.
Viravam-se as páginas; sucediam-se as vénias ao público… Aquele público surpreendido mas, ao mesmo tempo, entregue e empenhado em fazer parte do concerto. Um público assim merece vénias, todas as vénias e aplausos.
Por momentos os papéis inverteram-se e o público passou a ser a estrela.
E terminou… com a mesma paz com que tinha começado. No entanto, todos saíram dali mais ricos. Quem tocou desfrutou do prazer de tocar, de divertir, de animar centenas de vidas, quiçá, tristes, mas que encontraram naqueles acordes, naqueles ritmos, um oásis de felicidade. Quem ouviu, fez parte do espetáculo e foi para casa com o coração quente e um sorriso nos lábios.
Porque há concertos assim… vale a pena ser músico.