Sou músico desde 1994.
Nestes 17 anos de música já tive concertos bons e maus mas, apenas por uma vez, tive vergonha de estar em palco. Não interessa quando, nem onde, nem com quem.
Apenas recordo que foi algo tão mau, tão indescritível, que a minha vontade, da primeira à última nota, era sair do palco a correr e nunca mais voltar àquele local.
Esta angústia pessoal de ver um barco totalmente à deriva, agudizava-se ao perceber que alguns dos meus colegas de palco e, principalmente, a pessoa responsável pela direcção artística daquele agrupamento, não tinham a noção do que estava a acontecer. Pior: estavam convictos de que estava a ser um concerto espectacular. Mais grave ainda: afirmaram e reafirmaram que “o concerto foi excelente”.
Felizmente, outros percebiam que, mais cedo ou mais tarde, o caos iria abater-se sobre aquele palco. Com umas trocas de olhares lá fomos juntando vontades e dando o nosso melhor, até ao limite das nossas forças, para dar alguma dignidade ao que estava a acontecer e que era tudo, menos música.
Mas a vergonha estava lá. Não conseguia olhar o público e, se houvesse um espelho, não conseguiria olhar-me a mim próprio.
Quando saí do palco, uma pessoa da minha família que estava a assistir perguntou-me: “Mas que m*rd* foi esta?”
“Foi um concerto mau de mais e que quero esquecer rapidamente…”
Mas é difícil. Da mesma forma que as actuações positivamente extraordinárias se tornam inesquecíveis, o mesmo acontece com os fiascos. Ficam armazenados na nossa memória para nos lembrar que há erros que não podem ser repetidos.