António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“13 de Outubro” ou “12 de Abril” – Alexandre Fonseca

Outubro 13th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS – Problemas de calendário

Hoje é 13 de Outubro, mas para os filarmónicos também pode ser “12 de Abril”. Assim como, a 13 de Abril, pode ser “13 de Outubro”.

Já muitos de nós tocamos esta bonita marcha de Alexandre Fonseca sob dois títulos diferentes.

Aliás, já me aconteceu, na mesma banda, parte das cadernetas terem um título, e outra parte o outro.

Mas, vamos respeitar o calendário e ficar com a marcha “13 de Outubro”, na interpretação da Banda de Lousada, sob a direcção de Alberto Vieira, num registo Afinaudio.

Se alguém souber a história detalhada por detrás dos dois títulos… agradeço que me contem.

 

Até sempre, Professor!

Outubro 12th, 2021

O professor Jairo Grossi era mais que um Pianista Acompanhador. Era nosso parceiro dentro e fora do palco.

Tinha sempre algo mais a acrescentar à nossa interpretação, sempre uma palavra de incentivo, principalmente naquelas passagens que nos derretiam o cérebro e os dedos. Por vezes, conhecia as peças melhor que nós:

– «Minino», você precisa tocar o “Solo de Concours” do Messager.

– Mas isso é um calhau, Professor!

– «Qui» nada «minino»! Você consegue!

Aceitou tocar comigo numa audição, quando outro acompanhador simplesmente desapareceu.

– Qual é a peça?

– O concerto de Krommer…

– Esse aqui?

E começa a tocar de memória.

Foi ele que me “obrigou” a tocar o Concertino de Weber de cor, quando me esqueci da partitura num ensaio. Concertino no qual se “irritava” comigo por eu não atacar a primeira nota quando ele estava à espera.

Incansável.

Lembro-me de um dia em que, após longas horas de correpetição com a classe de Ópera, ainda procurou forças para vir ensaiar com os sopros. De rastos, chegou a tocar só com uma mão, mas não nos deixou ficar mal.

Ensinou-me a técnica de virar páginas a um pianista (sim… existe!). E, talvez por isso, se me apanhava nos corredores do Conservatório, ou nos bastidores de algum recital:

– Você vira as páginas para mim?

No final de um concurso para uma orquestra “Parabéns! Você foi o melhor!”. Quando soube que não entrei, ficou mais chateado que eu.

Um parceiro dentro e fora do palco.

Um parceiro que agora partiu.

A sua despedida é o epílogo de uma das fases mais pulsantes da minha vida, onde respirava e transpirava música de manhã à noite.

Como dizia um amigo esta manhã “tenho boas memórias”. E são essas boas memórias que, neste momento, todos aqueles que tiveram o privilégio de tocar com o Professor Jairo recordam e guardam.

Até sempre, Professor!

“Canções de Outrora” – Luís Cardoso

Outubro 6th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Há muitas formas de uma obra nos tocar.

Pelo seu carácter, pela sua história na nossa história, pelos sentimentos que nos desperta.

“Canções de Outrora”, um singelo medley de Luís Cardoso, toca-me pelas remotas memórias que traz ao presente. As manhãs de sábado na cama com o meu pai a ouvir música, muita música. Ouvíamos de tudo um pouco, incluindo estes temas que Luís Cardoso tão bem compilou. Até mesmo a marcha “Derby Day” que, durante décadas assinalou a abertura da emissão da RTP.

Contrastando com a vibratilidade de outros medleys deste compositor, “Canções de Outrora” é a manta aconchegante num final de tarde outonal. É aquele olhar sorridente, saudoso e emocionado para o passado. É a exaltação da melhor música portuguesa, sem necessitar de grandes “fogos de artifício”.

Aqui na leitura da Banda de Lever, dirigida pelo meu amigo André Ferreira:

Até quando?

Outubro 5th, 2021

Vestiu-se sozinho depois de (mais) um amor que não aconteceu. Como tantos outros.

Diz-se que antes do sexo, cada um despe o outro, mas no fim cada um tem que se vestir sozinho.

E a dor de ter que se vestir depois de algo que não aconteceu?

Foi (é) assim tantas e tantas noites.

O Netflix, o Instagram, ocupam as mãos e dos olhos que deviam estar ocupados com ele.

Na boca, um infinito “não” onde deveria estar um “mais”.

Até quando?

Ele não sabe. Já quis desistir, mas volta sempre. Como uma droga. Pesada.

Todos os dias pensa “hoje não”, mas todos os dias lança os dados, sabendo que vai perder.

Depois chora. Sozinho. 

Chora pelo não, pelo tempo perdido, pelo tempo passado. Chora por continuar a injectar-se com uma droga que o destrói mas não consegue largar.

Chora por ele. É feio? Não é atraente? Cheira mal?

Chora porque sabe que vai continuar a chorar.

Até quando?

 

 

“Concertino para Clarinete” – Carl Maria von Weber

Outubro 1st, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Edição Dia Mundial da Música

 

 

Hoje é Dia Mundial da Música e o “clássico” de hoje tem que ser especial.

Conheci esta obra na banda de Crestuma, à época tocada em simultâneo por três clarinetistas. Durante anos foi uma das obras de referência da banda, graças ao virtuoso naipe de clarinetes que possuía.

Apaixonei-me de tal forma por este Concertino que, quando comecei a estudar clarinete, fixei como objectivo, um dia, vir a tocá-lo.

Infelizmente, nunca a consegui tocar acompanhado por banda ou orquestra, mas apresentei-a algumas vezes com piano.

Foi das poucas coisas na vida que consegui tocar de cor e sem grande esforço (eu que tenho uma enorme dificuldade em decorar partituras).

Ainda hoje, nas raras vezes em que pego num clarinete, toco umas notinhas disto.

Marcou-me de tal forma, que eu marquei-a na pele.

Aqui fica na interessante interpretação de Aaron Lipsky, vencedor da Edição de 2020 do Concurso para Músicos do Ensino Secundário da Banda dos “Marines”, acompanhado pela própria “President’s Own United States Marine Band“.

Feliz Dia da Música a todos!

“Final da 4ª Sinfonia” – Tchaikovsky

Setembro 22nd, 2021

Qual é o “calhau”, qual é ele, que tem um extracto na entrada de uma canção dos Pink Floyd?

“(…)

O quarto andamento. Se dentro de si não encontra motivos para alegria, olhe para os outros. Saia entre as pessoas. Veja como eles podem divertir-se, entregando-se de todo o coração aos sentimentos de alegria. Imagine a alegria festiva das pessoas comuns. Mal conseguiu esquecer-se de si mesma e deixar-se levar pelo espetáculo das alegrias alheias, o destino irreprimível reaparece e o faz lembrar de si mesma. Mas os outros não se importam consigo e não perceberam que está solitária e triste. Oh, como eles se divertem! Estão muito felizes porque todos os seus sentimentos são simples e directos. Rejeite-se e não diga que tudo neste mundo é triste. A alegria é uma força simples, mas poderosa. Alegre-se com a alegria dos outros. Viver ainda é possível.

Isso, minha cara amiga, é tudo que posso explicar a sobre a sinfonia. Claro, isso é vago e incompleto. Mas uma qualidade intrínseca da música instrumental é que não cede à análise detalhada (…)”

Assim escreveu Tchaikovsky sobre o último andamento da sua quarta sinfonia.

Assim o tocou a Banda de Arcos de Valdevez, no Concurso de Bandas Filarmónicas Braga 2016, sob a direcção de Gil Magalhães, com gravação Afinaudio.

 

Quero eleições todos os anos!

Setembro 20th, 2021

 

Para ver obras na rua e na rua ver aqueles que não saem dos gabinetes.

 

Para ver quem não liga nenhuma a política, encher de política as redes sociais.

 

Para ver interessado, quem nunca se interessou, participativo, quem nunca participou.

 

Para as colectividades receberem ilustres visitas e todos possam “conhecer as dificuldades e anseios destas instituições.”

 

Para a cultura subir ao pódio e o desporto ser mais que futebol.

 

Para os velhinhos receberem miminhos e as criancinhas beijinhos.

 

Para que os projectos, as ideias, os programas, não caiam na gaveta.

 

Para que os habitualmente arrogantes, déspotas, nepotistas, de rosto austero, ganhem simpatia, gentileza e um sorriso, pelo menos, durante duas semanas… ou só mesmo para a fotografia.

 

Para a fotografia, para o cartaz e a bandeira.

 

Para o brinde, o folheto, o comício e a caravana.

 

Para o ruído que cresce e explode nas primeiras projecções.

 

Para o silêncio da manhã seguinte…

 

Para o silêncio que perdura durante quatro anos, não dure mais que uma manhã.

“Clarinet Concerto” – Artie Shaw

Agosto 20th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Fim da 4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

Há obras que ficam para sempre associadas aos intérpretes.

Vou cometer uma inconfidência e partilhar um excerto de uma conversa que tive esta semana com o Ricardo Torres:

“Em relação ao Artie Shaw, devo-o ter tocado umas 100 vezes com a BMF. (…)  sem querer ser pretensioso, acho que marcámos uma posição em relação a esse estilo e peça. (…) Não sei se existem vídeos disso, mas de qualquer forma está gravado numa dos cd’s da banda. Era sempre uma das últimas obras do dia, depois de arruadas, concertos e procissões . Só eu sei o esforço que era (e beiças de aço) para fazer aquilo. Mas era uma sensação que poucos têm a oportunidade de experimentar.”

Tenho pouco a dizer sobre a obra, porque ela fala por si. Sinto-a de forma muito visceral e acho que é a melhor forma de me despedir dos Clássicos Filarmónicos (pelo menos neste formato regular e diário).

Para quem é clarinetista e apaixonado pelo swing este Concerto tem tudo. E o Torres ainda lhe acrescenta um toque muito especial pelas improvisações que lhe mete, com muito critério e bom gosto. Porque, isto de tocar jazz, não é só “guinchar”, “glissar” e mandar “notas à sorte”. É preciso ter “soul”, “groove” e essas coisas todas impossíveis de descrever por palavras.

Aqui fica a incrível interpretação do Ricardo Torres, com a Banda Sinfónica da GNR, sob a direcção do Sargento-Mor Armindo Pereira Luís.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.