António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Os Doze Titãs” – Antero Ávila

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 2 de Junho)

Segunda Temporada – Música para um novo século
Uma das melhores coisas que a Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa me deu foi a possibilidade de conhecer o reportório de Antero Ávila. Felizmente, não só conheci o compositor, como fiquei seu amigo e, mesmo separados por um oceano, há muito que nos une.
Dotado de uma grande sensibilidade, estudioso, o Antero é daquelas pessoas que trata a Música como parte de si e isso reflecte-se nas suas obras.
Fantasia Ligeira, Arquipélago, 3 Oceanos, A Cidade… obras que nos deliciam a cada compasso e, infelizmente, pouco tocadas.
Num dos últimos estágios da BF-FP, o Antero desafiou-nos com os seus “12 Titãs”. Após o primeiro ensaio afirmei: “que boa obra para responder ao 1812 ou ao Inferno.”
Ontem, pedi-lhe para falar um pouco sobre a sua obra, aqui fica a conversa:
– É uma música que usa, em algumas partes, escalas octatónicas, o que dá uma sonoridade com “coloridos” diferentes. Alternando partes mais rápidas e aguerridas com partes mais românticas. Tem uma fuga que abre caminho até um clímax em que se ouve o tema lento e com muita densidade de vozes.
Inspirado na mitologia grega.
– …e tem um papel de tímpanos altamente!
– he he! E uns pozinhos de hard rock.
“12 Titãs” de Antero Ávila, numa interpretação da Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa, dirigida por alguém que ama dirigir as obras do Antero, Afonso Alves.
Isto merece ser um clássico.
Já agora, Antero, é “12” ou “Doze”?

“Vila Franca” – Jorge Salgueiro

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 1 de Junho de 2021)

Segunda Temporada – Música para um novo século
Ao longo da Primeira Temporada, foram-me sendo sugeridas algumas obras que não se enquadravam, propriamente, no conceito “clássico”. No entanto, são obras de qualidade, algumas delas pouco tocadas, quase desconhecidas. Por isso mesmo, irei dar-lhes algum espaço.
No entanto, para este primeiro “episódio” escolhi uma obra já batidinha. Quase já se pode dizer que é “clássico”, mas escolhi-a por outros motivos.
“Jorge Salgueiro compõe regularmente desde os 14 anos, sendo autor de mais de 300 obras, entre diversa música para orquestra, banda, coro, de câmara, para teatro, cinema, bailado e para crianças.
Foi entre 2000 e 2010 compositor residente da Banda da Armada Portuguesa.” (fonte: site oficial do compositor)
O seu pasodoble “Vila Franca” foi inicialmente composto para quinteto de metais, mas é nas bandas que tem feito sucesso. Três minutos de pujança e não é preciso mais. Ao som de “Vila Franca”, já vi coretos a abanarem por todos os lados.
Data de 2002 e, o seu aparecimento nas estantes das bandas portuguesas, corresponde ao período de transição no reportório filarmónico nacional.
Sobre a escrita de Jorge Salgueiro falaremos mais tarde mas ele escreve como ninguém e ninguém escreve como ele.
Aqui fica a “Vila Franca”, pela Banda Castanheirense, dirigida por Pedro Ralo.
Captação de imagem: Damião Silva

“Suspiros Maiatos” – Hermínio Santos Leite

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 31 de Maio de 2021)

Amigos,
Chega hoje ao fim a Primeira Temporada dos Clássicos Filarmónicos. Ao longo de praticamente dois meses, todos os dias, fui partilhando obras marcantes na minha “carreira” filarmónica que começou em 19 de Março de 1994.
Na escolha do reportório, contei com a colaboração do Hugo Rocha e do João Rocha.
Agradeço também o apoio técnico do Hugo Oliveira nalgumas publicações, nomeadamente no post sobre a “Boris Godunov”.
Uma palavra aos compositores Afonso Alves, Carlos Marques, Luís Cardoso, Nelson Jesus e Valdemar Sequeira pelo feedback (público e privado) que deram sobre as suas obras. Assim como aos maestros nos vídeos apresentados António Ferreira, Luís Macedo, Manuel Fernando Marinho Costa, Paulo Veiga, entre tantos outros.
Como não podia deixar de ser, um grande abraço para uma grande figura da nossa filarmonia, o senhor Damião Silva, responsável por grande parte dos vídeos publicados.
O meu último e mais importante agradecimento vai para todos os que reagiram e comentaram (em público e em privado) ao longo destes dois meses. Sei que há muita gente que acompanha a rúbrica diariamente, apesar de não se manifestar.
Não fiquem tristes, porque a segunda temporada começa amanhã. Com um tipo diferente de reportório, uma nova abordagem, para desanuviar um pouco. E porque, na filarmonia, também temos que olhar para o presente e para o futuro.
A terminar, deixo aqui um clássico “daqueles”. De um compositor realmente clássico. Acho que nunca toquei, mas foi uma obra sugerida várias vezes.
Orquestra Filarmónica 12 de Abril, sob a direcção de Luís Cardoso, com “Suspiros Maiatos” de Hermínio Santos Leite.

“Boris Godunov” – Mussorgski

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 30 de Maio de 2021)

 

Hoje fui buscar um calhau daqueles… Uma obra que, definitivamente, não é para qualquer um.
Citando um professor que tive na faculdade, esta obra “é como a lampreia, ou se ama, ou se detesta.”
Eu amo. Borro-me todo quando tenho que a tocar, mas amo.
Modest Mússorgski teve uma vida complicada. Dificuldades financeiras, doença psíquica e alcoolismo… muito alcoolismo. Aliás, o alcoolismo destruiu a sua carreira e a sua vida.
“Aos 29 anos de idade começou a compor Boris Godunov, sua ópera mais conhecida e uma das peças mais importantes da história da música russa, baseada no drama homónimo de Pushkin e na História do Estado Russo de Karamzin. Utilizando o ritmo da fala dos mujiques ao invés de melodias líricas; harmonias excêntricas porém expressivas, como a harmonia sacra eslava; e coros e personagens populares com papéis importantes, Boris Godunov causou grande polémica, sendo que a versão original de 1870 foi recusada. A estréia ocorreu no Teatro Mariinski em 1873, após diversas alterações feitas por Mússorgski e Rimski-Kórsakov, embora ainda tenha causado controvérsias. Após uma nova apresentação de apenas alguns trechos em 1878, a ópera deixou de ser encenada.”
Mussorgsky era semi-analfabeto enquanto músico. Era muito intuitivo. Ele não orquestrava, não sabia… As suas composições eram todas com redução de piano. E terá sido Korsakov quem orquestrou a ópera Boris Godunov.
Partilho hoje a melhor e mais completa versão que conheço para banda da Fantasia da Ópera.
O Maestro Hugo Oliveira pegou num arranjo já antigo e com uma instrumentação reduzida (nem flautas tinha) e modernizou-o, utilizando a partitura de orquestra como apoio. Aproveitando a escolha das secções da Fantasia já existente, adaptou e orquestrou para banda moderna. E está um trabalho magnífico que já tive a honra de tocar.
São quase 20 minutinhos de música…
São raras as bandas que tocam esta versão. A da Trofa é uma delas. Aqui fica uma gravação em duas partes, na Casa da Música, sob a direcção do Maestro Luís Filipe Brandão Campos.
Parte 1:

Parte 2:

“Guilherme Tell” – Rossini

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 29 de Maio de 2021)

O violoncelo é um instrumento espectacular. Tão espectacular que Rossini espeta-lhe um longo solo, com acompanhamento do naipe, no início da abertura da ópera “Guilherme Tell” e, muito provavelmente sem saber, espetou uma dor de cabeça naqueles que se aventuraram em transcrever essa abertura para banda.
Ao longo dos meus 27 anos como músico filarmónico, já ouvi de tudo um pouco para aquele início: sax-barítono + bombardino + sax tenor + clarinete; bombardino, fagote… sax-alto.. oboé, requinta, flauta… Dá para tudo. A verdade é que não é fácil. A tecitura do violoncelo permite esticar muito, sem problemas de embocadura.
De todas as soluções que por aí circulam, a mais sábia terá sido do maestro Fernando Costa, que colocou tudo ali nos saxofones.
Questões orquestrais e organológicas à parte, esta é daquelas que resulta bem na banda, principalmente se a banda até tiver um Corn Inglês para a secção pastoral. E se a banda tiver um flautista que não se cuspa todo… e trombones dispostos a ter uma luxação…
Tem tudo para correr bem a partir da cavalgada dos trompetes… “The Looooooone Ranger!”, os clarinetes que se lixem a dar ao dedo, que o povo gosta disto.
Agora a sério: gosto muito do Guilherme Tell e foi daquelas obras que nunca me cansou.
Aqui fica na leitura da Banda dos Arcos, dirigida por Gil Magalhães:

E, já agora, na leitura de Claudio Abbado, pela Filarmónica de Berlim (só por causa do impressionante solo de violoncelo)

“Canções da Tradição” – Luís Cardoso

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 28 de Maio de 2021)

Pum – pum – pum
Pum – pum pum – pum
É uma rapsódia, mas podia não ser. Podia ser um poema sinfónico sobre temas tradicionais portugueses.
A forma como os temas se sucedem, as harmonias (os arrepios que aquelas sétimas dão), os contrapontos, a orquestração, a escrita rendilhada para a percussão (sem simplesmente colocar pandeiros a dobrar a caixa) e o “Milho Verde”… O “Milho Verde” é, a meu ver, um brilhante exercício de orquestração (e uma delícia para quem toca triângulo). Aliás… podíamos isolar o “Milho Verde” do resto da obra e tocá-lo sozinho.
“Canções da Tradição”, obra “top” na última década, é o exemplo de como se pode inovar numa rapsódia, sem que os temas percam o carácter tradicional português. É Luís Cardoso a mostrar-nos que, ao contrário do que postulam certos eruditos, a música tradicional é rica harmonica e ritmicamente. Mas é preciso saber fazer… e o Luís sabe.
Pode haver quem olhe para as “Canções da Tradição” com um certo desdém “ah… não tem nada de especial”, se não tivesse “nada de especial” seria tão tocada?
Aqui fica tocada num coreto, pela Banda de Amares, dirigida pelo meu amigo António Ferreira.
Bom fim de semana!

“Pela Ordem e Pela Pátria” – Ilídio Costa

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 27 de Maio de 2021)

“Ofereço este meu trabalho ao Sr. Major Silvério Campos, digníssimo Chefe de Banda pela sua persistência e tenacidade em favor do bem estar dos músicos e da Música em Portugal. O Autor: Ilídio Costa”.
“Pela Ordem e Pela Pátria” é mais uma pedra basilar no reportório filarmónico nacional, pela estrutura, pelo carácter e pela inconfundível chancela criativa de Ilídio Costa. Gosto dela a cada momento, mas é a primeira fanfarra dos trompetes e o forte posterior dos graves que me enchem as medidas.
Aqui fica na interpretação de mais um Maestro que marcou o meu percurso filarmónico. O José Moura foi a primeira pessoa a dar-me uma batuta para a mão e a dizer “Vai.”
Confiou em mim, sem ter que lhe provar nada. Adorava a relação que tínhamos em palco, mesmo que às vezes eu lhe pusesse os nervos em franja. Trabalhamos juntos durante 10 anos, uma década de aprendizagem e crescimento como Músico. 10 anos que jamais serão apagados.
“Pela Ordem e Pela Pátria”, pela Banda Marcial de Arnoso, sob a direcção de José Moura.

“Rapsódia Húngara n.º 2” – Liszt

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado a 26 de Maio de 2021)

“Fortemente influenciado pela música que ouviu na infância, particularmente a música folclórica húngara, com forte influência cigana, espontaneidade rítmica e expressão sedutora, o compositor e pianista húngaro Franz Liszt compôs 19 rapsódias.
Entre todas, a segunda, composta em 1847 e dedicada ao Conde Laszlo Teleky, foi aquela que atingiu maior popularidade, permitindo ao compositor revelar a sua excepcional capacidade, para além de oferecer uma irresistível e imediata apreciação musical.”
…e quem é o clarinetista que não gosta disto?
‘Rapsódia Húngara Nº 2’, de Franz Liszt, com arranjo de Hugo Oliveira, na interpretação da Marcial de Fermentelos. E é com orgulho que digo que já toquei este arranjo, nesta banda, sob a direcção deste maestro com quem tenho uma amizade de quase 40 anos.
“Vai, Rambóia!”

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.