António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Fourth Symphony” – Alfred Reed

Junho 30th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Intermezzo

O misterioso primeiro andamento da obra leva a que a mesma se estranhe. O furioso terceiro andamento entranha-nos à força. Pelo meio, a delicadeza do Intermezzo.

A quarta sinfonia de Alfred Reed (compositor americano que se tornou popular em Portugal com “El Camiño Real” e “Golden Eagle”) é como um daqueles filmes de Hollywood: mistério, paixão, drama, romance, erotismo, violência e até humor.

Honestamente, é das obras mais completas que conheço e também mais difíceis.

Encomendada para o “World Music Contest” em 1993, abre com uma Elegia, construída em grande parte sobre um ritmo básico suave, insistente, ouvido pela primeira vez nas flautas, sob o tema principal do oboé. O desenvolvimento desses dois motivos passa por toda a banda, às vezes na forma de tristes “canções”, outras com um carácter altamente dramático, até à suave estabilização final do andamento, num acorde mi menor. Um contraste evidente com todo o restante andamento,  principalmente não tonal em estrutura e sentimento.

Segue-se um contrastante intermezzo gracioso, desenvolvido a partir de um tema tranquilo e cadenciado com um ligeiro toque de sabor latino, a remeter-nos para o “El Camiño Real”, destacando as madeiras da banda lançadas num elegante compasso 5/8 metros em grande parte da textura. A fusão entre os sopros e a percussão é feita pela harpa, que às vezes parece quase soar como um grande violão espanhol, dedilhando acompanhamentos às várias linhas melódicas.

O último andamento é, novamente, um contraste com o momento anterior. Uma tarantela ardente, baseada em um tema fugal que é desenvolvido com todo o virtuosismo inerente às bandas modernas e totalmente integrado, que varre o ambiente implacavelmente até uma conclusão final e brilhante tanto quanto ao seu próprio andamento quanto à obra como um todo.

Infelizmente, não encontrei gravações de bandas portuguesas a interpretar a obra, pelo que deixo-vos aquele que é, provavelmente, o mais mítico registo da mesma: a Koninklijke Harmonie van Thorn, dirigida por Jan Cober, precisamente no WMC, em Kerkrade.

 

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.