António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Eu, Saramago e a linguagem SMS

Setembro 10th, 2008

Ando a ler o Memorial do Convento.

Descobri que tudo o que as minhas “stôras” de português me ensinaram sobre as regras de pontuação, ao longo dos meus tempos de escola, está errado. Ou, pelo menos, não se aplica a escritores de topo. Esses podem fazer o que lhes apetece, sem correrem o risco de levar uma negativa na pauta. Se eu escrever mal… é um erro; se o Saramago escrever mal… é arte!

José Saramago não usa pontos de interrogação nem de exclamação, os diálogos são introduzidos e separados por vírgulas… Do alto da sua intelectualidade, Saramago acha-se no direito de violar uma série de regras de escrita de português. Nada contra. Cada um escreve como quer. Aliás, a escrita de Saramago acaba por ser cativante e engraçada, mas o senhor Prémio Nobel podia facilitar a leitura. Para percebermos a narrativa temos que estar atentos… muito atentos e às vezes ler aquilo duas ou três vezes.

Que saudades eu tenho de Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Cesário Verde, Camilo Castelo Branco, Luis de Camões. Estes, são grandes nomes da nossa literatura, deixaram um legado magnífico, mas não precisaram de nos dar cabo da cabeça para perceber o que escreveram!

Mas, ao ler o livro, eu pergunto-me se a malta do 12º ano que, na sua maioria, também usa uma forma de escrita muito peculiar (ver a história do Capuchinho Vermelho, uns posts atrás) irá perceber aquilo…

Estamos perante um desafio Saramago vs. Teenagers; uma luta entre dois idiomas: Português Alternativo vs. Linguagem SMS

Talvez fosse interessante, num dos próximos livros, Saramago usar K em vez de C e X em vez de S. W em vez de L, colocar H no fim das palavras e por aí fora… Eu ia continuar sem perceber, mas assim os “teenagers” já percebiam! Boa ideia, não?

Aí, sim! A malta ia curtir ler Saramago…

P.S. – outro dia vi o Saramago na T.V. a dizer que se escreve muito mal o Português. Ele lá sabe do que fala.

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