António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Do Fim ao Recomeço

Outubro 5th, 2022

Há pouco mais de um ano, estava determinado a terminar a minha vida filarmónica. Tantos anos, tantas madrugadas de Domingo, arruadas e procissões intermináveis, concertos para ninguém, “não posso, tenho ensaio…”

Uma pandemia e a descoberta que os Domingos existem para lá dos arraiais.

Uma conversa circunstancial com um velho amigo e em menos de uma hora realizava um sonho antigo, um desejo de ambos. O recomeço.

As coisas acontecem quando têm que acontecer.

“Bem-vindo à Marcial.”

E começou uma viagem onde tudo soava à primeira vez. Aos 42 anos voltei a ser menino, a vestir uma farda com emoção, a acordar cedo sem resmungar.

Uma época que passou num sopro, de Vilar de Figos a Fermentelos, passando por Macinhata do Vouga, Rio Tinto, Forjães, Rio Mau, Vila Chã, Montalegre, Melres, Gens, Espadanedo, Perrães, Valinhas e Crestuma.

Crestuma, a terra que me viu nascer e crescer, onde toquei à distância de uma lágrima para o meu pai e para o meu filho, onde o coração pesou mais que a farda e as baquetas. Crestuma, onde 16 anos de desterro se esfumaram em 16 horas de emoção. Onde a Marcial deu tudo pelo seu Maestro. As marchas de Crestuma foram fermentelenses por breves minutos e o Hugo saiu “em ombros”: “Miguel! Miguel! Miguel!”

Que orgulho, meu amigo!

Em Melres, outro Miguel, o Mota, veio tocar connosco e viajamos para trás e para a frente no tempo.

A dada altura comecei a fotografar as multidões que nos seguiam. “Ainda alguém ouve bandas?”

Centenas, milhares de pessoas, de manhã à noite. Arraiais em silêncio para ouvir Wagner, Tchaikovsky ou Mussorgsky; em festa ao som de Scorpions ou… Toy!

A Filarmonia é assim do Povo para o Povo. Tudo tem o seu espaço.

Das entradas imponentes às despedidas apoteóticas. As viagens de carro com o Afonso, o Carlos, o Chico, o Daniel, o Noémio e a Rafaela, filha de dois amigos de sempre.

Amigos novos, no palco, na tasca dos finos, nas refeições. O orgulho de fazer parte de um naipe que tem tanto de talentoso como de espirituoso: o Zé, o Hélder, o Leonardo, o André e o Pedro (que agora são também “Rambóias”).

E tudo isto passou num sopro, um recomeço que ainda está no início.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.