António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Dias do Fim – parte 3

Maio 18th, 2020

Não há como fugir: a maior parte de nós vive dependente das redes sociais. É um vício, que tem tanto de bom como de mau. Vício que, nestes tempos de confinamento, ganhou uma dimensão extra.

Não torças o nariz: provavelmente chegaste aqui através do Facebook, que é um dos dois únicos sítios onde partilho estes textos. O outro é o WhatsApp.

Então… ainda achas que isto das redes sociais é paranóia minha?

Não me interpretem mal, as redes sociais fazem parte do meu ganha pão. Trabalho agarrado a seis delas grande parte do tempo, portanto, longe de mim ser daqueles que passa a vida no Facebook a dizer que o Facebook é mau.

Confesso que fico vaidoso quando algo que público tem reactividade, likes partilhas e tudo a que tenho direito. Mas, por vício profissional, sou muito mais atento a quem não reage do que a quem reage.

Vamos parar aqui para pensar um pouco. Respirar fundo… Cá vai…

Muitas vezes, colocamos o gosto de forma indistinta, quase automaticamente, como aquele LOL que dizemos sem vontade nenhuma de rir. É, ou não é, verdade?

Mas o ignorar, o não dizer nada, pressupõe muitas vezes uma atitude de desacordo, quase repulsa, dado que o Facebook não tem a opção Não Gosto.

E isto do ignorar tem muito que se lhe diga. O Miguel Monteiro dizia-nos, muitas vezes, que a primeira necessidade que o ser humano manifesta quando nasce é a necessidade de aceitação: querer ser aceite pelos pais, pela família, pelo Mundo que o rodeia. Nos antípodas disto está o sermos ignorados, no limite, rejeitados. E a rejeição é das coisas mais difíceis com que temos que lidar. Mexe com o nosso “eu” mais profundo, mais primitivo. Mexe com o nosso próprio instinto de sobrevivência.

Saber reagir a tudo sempre foi um dos pontos fortes do grande José Mourinho, homem por quem nutro sincera admiração, mesmo que os seus golden days já pareçam distantes. E, José Mourinho disse, há muitos anos, numa conferência de imprensa pós-jogo, que não eram os grandes erros de arbitragem que o enervavam, os penalties, os fora-de-jogo, os golos anulados… Não. Eram as pequenas faltas a meio campo, os lançamentos assinalados ao contrário, as paragens por tudo e por nada. Dizia ele que era isso que irritava e desconcentrava os jogadores.

É a diferença entre conduzirmos numa estrada excelente, mas com um buracão a dado ponto, ou guiarmos o nosso carro por uma caminho irregular e cheio de buraquinhos.

Enquanto escrevia este texto ouvi a notícia de que hoje reabrem as tascas. Tudo preocupado em ir à praia e eu a sonhar com uma tasca recheada de amigos, canecas de cerveja e petiscos. E depois partilhar tudo no “Insta” e em todo o lado.

Por falar em amigos, tenho saudades vossas, pá!

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.