Toda a noite sonhou com ela.

Por muito que tentasse, não conseguia bloquear dos seus pensamentos as duas características que mais o fazem amá-la: os olhos e o sorriso.

Como é possível que, de um rosto tão terno, emanem duas fontes abundantes de um poder de tal modo devastador

A sua doçura é o vício dele. Nela ele se aprisiona. Nela sofre.

Sem ela… ele não é nada, mas com ela não pode viver.

Oh! Como ele queria que tudo fosse apenas um sonho. Apenas um sonho, como cada segundo em que estão juntos, como cada troca dos seus lábios, como cada beijo dos seus corpos.

Na noite seguinte, nem se atreveu a deitar-se. Sabia de que nada valia tentar adormecer aquele corpo que fervilhava de desejo por ela.

Então, ficou a olhar para o Infinito e esperou que a Morte viesse.

Estranha contradição
É aquela em que vive o teu corpo
Quente como tarde no Estio
Refrescante com o gelo polar

Assim me dominas
Assim sou teu
Deambulando pelos extremos da tua Paixão
Escravo

Como pensas ser água e fogo ao mesmo tempo?
Que magia é essa que só tu sabes?

Encanta-me!
Não passo de uma marionete
Queima-me
Gela-me com as tuas gotas de Vénus

Serei teu como tu quiseres…
Morrerei se preferires…

No teu Céu
Ou no teu Inferno

Gostava de perceber porque não durmo
Porque a minha noite é invadida pela tua presença
O teu olhar penetrante que não me liberta
O teu sorriso que me encanta num feitiço único e irrepetível

Porque és assim?
Porque habitas em espaços além do próprio espaço?

Oh… não poderia tudo isto ser diferente?
Não poderia amar-te para além dos limites?
Sem colocar a cabeça no cepo da desgraça
Esperando que algum machado nos liberte para sempre

Mas sem ti não existo
Porque caíste na minha vida como a peça que faltava
Neste puzzle distorcido que é o Amor

“Seria feliz só a olhar para ti, mesmo que não dissesses uma palavra.”

Ernest Hemingway