Se há coisa que me deixa um pouco agastado, são aquelas pessoas que emitem opiniões sobre assuntos para os quais não estão minimamente preparadas. Falam por falar, só porque querem dizer alguma coisa, não têm argumentação válida e, depois, só saem disparates.
Conheci alguém que disse: “como eu não sei andar de mota… não ando de mota”.
Ultimamente tenho visto muita gente que “não sabe andar de mota” mas que age como se fosse o Valentino Rossi.
Se, nalguns casos, é pura ignorância, noutros trata-se apenas de uma espécie de exibicionismo intelectual que conduz a afirmações ocas e despropositadas, sobre os mais diversos assuntos.
Uff…
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.
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Ode na noite
E como me senti só
Cada gota de chuva
Era como uma faca
Que me rasgava a pele
E abria no chão
Poças de lama e sangue
Senti-me nu
Perdido
Gelado
Era o vazio
A escuridão
O silêncio apenas interrompido
Pela chuva que caía
Lentamente
Fui-te perdendo
Não mais te senti
Os meus lábios
Perderam os teus
A minha pele esqueceu a tua
Os teus seios tornaram-se uma miragem
O teu corpo uma ilusão
O teu perfume perdeu-se na treva
E as tuas palavras foram surdina
Os teus olhos apagaram-se
E o teu cabelo voou com o vento
E a vida
Deixou de fazer sentido
Nem os poemas
Nem a música
Nada vale nada
Sem a tua presença
Sem aquele brilho
Que só tu sabes dar à minha vida
Volta
Preciso daquela música
Que compões num piano de estrelas
Preciso dos poemas que nascem no teu corpo
Preciso que me beijes com o teu olhar
Preciso de nadar na tua pele
Mergulhar em beijos sem fim
Sentir as tuas unhas cravadas no meu coração
Agarra-me
Prende-me
Possui-me e não me libertes
Não mais te deixes perder na noite
Não mais permitas que a tempestade nos afaste
Não mais adormeças sem mim
Não mais me deixes adormecer sem ti
Porque somos um só
Somos a escultura do amor
Que na luz de uma noite se tornou maior
Agora eu tenho o teu nome
E tu tens o meu
É o meu sangue que corre em ti
É o teu ar que respiro
São os teus cabelos que penteio
É a minha barba que aparas
Já não existimos
Somos uma constelação que brilha no céu
Somos o Amor
Um especial poder
Às vezes as pessoas só precisam de ouvir o óbvio. O óbvio que qualquer pessoa constata, mas que ganha um valor diferente, consoante o emissor. Aliás, esse óbvio podia ser mesmo constatado pelo próprio sujeito, se tivesse um pouco de calma, ou se ganhasse coragem de olhar-se ao espelho.
No entanto, é necessária uma acreditação. Uma constatação simples só ganha credibilidade se pagarmos por ela, se provir de alguém com um título pomposo ou com “poderes” especiais de percepção psíquica ou, até mesmo, extra-sensorial.
Serei eu demasiado clarividente ou demasiadamente ignorado?
Sonhei
Sonhei
Que ao teu lado acordei
E os teus olhos os meus tocaram
E para sempre ficaram
No corpo que desejei
Vi-te
Para mim estavas nua
Um corpo em oferta
Uma pele descoberta
De tom branco como a lua
Possuíste-me
Naquele amanhecer eu fui teu
Cada toque, cada olhar
E no momento de acordar
Em ti meu corpo pereceu
Purificação II
A sede de matar não lhe saía da boca. Recordava-se ainda do prazer que viver uma semana antes, o sangue nas vestes do padre, o terror nos olhos dos estúpidos fiéis a eficácia da sua lâmina.
Agora queria mais. Sentia que aquela noite tinha sido apenas o início. Precisava continuar o seu trabalho de purificação. Era necessário derramar mais sangue. Mas de quem?
Não foi preciso muito para descobrir uma simpática idosa que proclamava conseguir ver aquilo que os médicos não viam. Vivia nos subúrbios, numa zona já bastante rural. Teve que atravessar uma longa estrada pelo meio do monte para dar com a aldeia, depois o seu jipe mal passava nas estreitas vielas que conduziam ao ermo isolado onde ficava a casa. “Que mau gosto!”, pensou. A casa estava revestida de azulejos azuis, com um pequeno jardim, excessivamente ornamentado, onde se sobressaía uma Nossa Senhora de Fátima, devidamente acompanhada pelos três pastorinhos. “Que desplante”.
Viu as pessoas. Mulheres, gordas, mal arranjadas, feias. Provavelmente recorreram à velha curandeira para perguntar porque é que o marido andava com outras. Bastava olharem para o espelho. Rostos tristes, amargurados, procurando naquela velha a resposta para os problemas e o caminho para a felicidade.
Ficou ali toda a tarde, observando. As consultas demoravam cerca de meia-hora. Algumas mais, outras menos. Era um entra e sai. Táxis, carros de aluguer. Maridos impacientes a fumar. Crianças procurando motivos de distracção.
Ainda não era o momento certo. Voltaria no dia seguinte.
E, no dia seguinte, voltou.
As pessoas pareciam as mesmas. Pensou em esperar que todos fossem atendidos, para ele próprio entrar e ter a sua consulta. Mas parecia um rio de gente sem fim. Então, quando viu uma família a sair, avançou. Novas clientes preparavam-se para entrar, mas ele impediu. Bastou um olhar para aterrorizar aquela pobre gente. Subiu as escadas, sendo recebido pela filha da velha. “Não o vi a esperar.” “Mas acredite que estou há muito tempo à espera”.
Não disse mais nada. Foi conduzido à sala de estar, o consultório. A velha estava sentada num cadeirão de madeira, segurando uma cruz e um terço. À semelhança do jardim, a decoração era excessiva. Cristaleiras a abarrotar de cacos. Uma mesa com artigos para venda. “O merchandising da crendice”, pensou. Amuletos, imagens de santos, pagelas.
“Então, meu filho, o que o trás cá?”
Sentou-se e fechou a porta.
“A porta não pode estar fechada”.
“Pode, pode…”
“N…”
“Chiu! Quem vai falar sou eu.”
A velha preparava-se para chamar pela filha mas, num instante, viu a espada do homem apontada à sua garganta.
“Podes gritar e morrer de imediato, ou podes ouvir-me recitar a causa da tua condenação”.
A velha não disse nada. Ele concluiu que era sinal da escolha da segunda hipótese.
“Vou-te matar, porque és uma velha maluca que se aproveita da ingenuidade das pessoas.”
“Não sou maluca, tenho um poder… um poder que uso para ajudar as pessoas.”
A velha falava tranquilamente, como se não tivesse uma espada apontada à garganta. “Típico dos loucos”, pensou.
A velha continuou. “Não me aproveito de ninguém, não cobro dinheiro, cada um dá o que quer.”
“Cínica! Pensas que não sei quanto ficam os trabalhos que fazes a altas horas da noite em capelas perdidas nos montes? Chegas a ganhar mais numa noite que muita gente num mês inteiro. És uma prostituta!”
A velha começou a chorar. Agarrava com força a cruz e o terço. O homem sentiu-se feliz e, num único golpe, separou a cabeça do resto do corpo. Rápido e indolor. “Tive pena de não a fazer sofrer mais”.
Usando sempre a espada como ferramenta, rasgou as roupas da velha e abriu-lhe o corpo, expondo os órgãos.
Sentia-se extasiado ao ver a facilidade com que a lamina atravessava o cadáver.
Limpou a espada à toalha de renda que estava sobre a mesa. Abriu a porta encontrando a filha no corredor. A mulher não conteve agudos gritos de dor ao ver a cabeça de sua mãe nas mãos do homem. O que terá acontecido depois de ter visto o corpo todo aberto?
Saiu. Os clientes que esperavam, ao verem o macabro troféu, ficaram estarrecidos… um ou outro não conteve os vómitos.
“Tomai a cabeça da vossa bruxa. Como podeis ver, era um ser humano como outro qualquer. O resto do corpo está lá em cima. Tive o cuidado de o deixar aberto para verem que era perfeitamente normal… talvez um pouco de gordura mais, mas isso todos vocês têm. Agora, voltai para as vossas vidas patéticas. Estais doentes? Ide ao médico. Tendes problemas? Procurai psicólogos. Os vossos maridos andam a encornar-vos? Olhai para o espelho. Esqueçam as bruxas… porque eu vou matá-las a todas. E mato quem se meter à minha frente. Boa tarde a todos.”
Atirou a cabeça para o chão. Acendeu um cigarro e saiu, com a mesma calma com que tinha entrado.
Chuva II
Estava só
Perdido comigo mesmo
Nu
Veio a chuva
E tu vieste com ela
E nunca mais estive só
Então a chuva despiu-te
E em ti peguei
Nua
Eras frio
Eras água
Eras doce
Em ti mergulhei
Em ti matei a minha sede
Em ti renasci
Lá fora
a chuva caía
E cá dentro caías em mim
O ritmo aumentava
O da chuva
O teu e o meu
Então uma explosão
Lá fora
E dentro de nós
Purificação
Queria matá-lo. Com as suas próprias mãos, da forma mais dolorosa que encontrasse. A ele, a outros e outras como ele. A este com mais intensidade, por se esconder por trás do título de “padre”, ao qual acrescentava ainda o título de Dr.
No entanto, era mais um como os outros e as outras. Um charlatão, um cínico… este ainda mais cínico, por ser “padre” e por ser Dr.
“São filhos da p*** como tu que dão mau nome à Igreja, vais arder no fogo do Inferno e sou eu que te vou atear, cabrão!”
O ódio banhava o seu corpo de alto abaixo. Sentia-se cegamente guiado por um único objectivo: manchar de sangue as vestes sacerdotais daquele homem e depois ficar a vê-lo morrer. Cuspiria no seu cadáver.
Sentia-se poderoso, capaz de enfrentar qualquer coisa. Estava na hora de pôr fim ao embuste e de dar um exemplo para os outros. Se corresse bem, este seria o primeiro. Depois faria o mesmo a todos os outros. Mataria um por um. Com violência, com dor, com muito sangue.
“Sangrar estes pulhas é algo de divino”.
Vestiu-se de negro, como a ocasião o exigia. Retirou da parede a valiosíssima espada samurai, que muitos pensavam ser meramente decorativa. Desconheciam, contudo, que a lâmina era afiada… muito afiada e que com um simples toque rasgaria pele, carne, ossos e tudo o mais que encontrasse no seu caminho.
Escondeu a espada no interior do casaco comprido.
Caminhava a passos largos e decididos em direcção à igreja. As luzes estavam acesas. Confirmava-se que aquele era o dia do culto secreto.
“Óptimo! Os otários vão ver a queda do Mestre. E se algum se meter no meu caminho, traço-o também.”
Entrou na Igreja já com a espada na mão, levantada à sua frente. O templo estava cheio de olhares em transe. Lentamente os presentes foram-se apercebendo do estranho que invadia o seu espaço com uma espada. A cena era de tal modo inesperada que ninguém, nem a própria vítima, teve reacção.
Primeiro um braço, depois outro… e o sangue jorrava. A espada cortava um corpo humano como se fosse manteiga. Depois, uma estocada no coração e, por fim, a lâmina atravessou o pescoço. Um fio de sangue surgiu lentamente na pele branca do sacerdote, contrastando com as golfadas que saíam dos ombros e do coração.
Com um sorriso nos lábios, esticou dois dedos na direcção da testa da vítima e, com um gesto subtil, completou a separação da cabeça do resto do corpo. Mais sangue.
A carcaça que restava do corpo daquele padre caía agora por terra.
Na plateia pessoas gritavam, desmaiavam, choravam, mas ninguém tinha coragem de se aproximar do assassino.
Limpou o sangue da espada à indumentária do cadáver, guardou-a novamente no casaco, acendeu um cigarro e saiu calmamente da igreja, sem que ninguém ousasse tocar-lhe.
Notas sobre o desporto “Rei”
1 – Cristiano Ronaldo foi, finalmente, considerado o melhor do Mundo. É uma vitória do talento que nasceu com ele, mas também de uma enorme vontade e espírito de sacrifício. Um exemplo.
2 – Depois de Figo, Ronaldo. Depois de Figo ter feito os agradecimentos em Castelhano, temia que Ronaldo se dirigisse ao Mundo em Inglês. O CR7 falou em português. Bravo!
3 – Pena que as exibições Ronaldo ao serviço da nossa Selecção fiquem uns furos abaixo do seu real valor. A prova de que Ronaldo deve muito deste prémio à sua equipa (Manchester United) e ao seu treinador (Alex Fergusson). De facto, Ronaldo é um atleta moldado como uma peça de uma máquina e que fora dela é como um peixe fora de água. Na Selecção Ronaldo não se encontra. Não sabe para onde ir nem o que fazer. Falta-lhe ainda aquela maturidade e capacidade de liderança que caracteriza(ou) homens como Luis Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, Vitor Baía, João Vieira Pinto, entre outros. Homens capazes de, nos momentos mais críticos, darem o grito de guerra e levar todo um povo às costas. Ronaldo está a crescer. Esperemos que lá chegue.
4 – Mais uma jornada da liga, mais uma arbitragem polémica. Desta vez, os responsáveis do SLB assobiam para o ar… “ah, e tal, há umas semanas atrás fomos nós os prejudicados…”. Lá está! Será que finalmente perceberam que, por vezes, somos beneficiados e por outras somos prejudicados? Que os erros das arbitragens tocam a todos?
5 – “O importante é focar no jogo”. Cada vez admiro mais Luis Freitas Lobo. Possivelmente é português que mais sabe de futebol. Do jogo. Ouvia ontem os seus comentários à jornada, na TSF e, em vez de cair na tentação de comentar as arbitragens, preferiu falar sobre a ausência de Meyong no onze inicial do Braga, no excelente jogo que esta equipa fez (e que merecia outro resultado), da defesa alta que o SLB praticou na primeira parte, das linhas mais recuadas na segunda e na importância de Reyes na equipa. Falou também no futebol avassalador, mas sem eficácia, do FCP, na instabilidade emocional que a equipa apresentou na segunda parte. E falou da estabilidade táctica do Sporting. Assim dá gosto ouvir falar de futebol.
6 – José Sócrates ficou emocionado com o prémio de CR. E tem razões para isso, pouco tempo depois do seu Ministro das Finanças ter recebido o prémio de pior Ministro das Finanças da União Europeia, é bom haver algo que encha o país de orgulho.
7 – Não posso deixar de sentir pena do Messi. Tenho um certo carinho pelo puto. Espero que vença no próximo ano.


