António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Quatro estações

Março 24th, 2009

Foi numa tarde de Outono que ela entrou na vida dele. Levava nos olhos aquele sorriso que escondia uma timidez natural, sincera. Mostrou-se humilde, simples e com uma enorme vontade de aprender.
Ele tinha muitas histórias para contar, memórias de uma vida que mais ninguém queria ouvir, a não ser ela. Então, ele sentou-a no colo e contou-lhe tudo o que há anos tinha guardado no coração. Ela continuava a sorrir e lentamente aproximou-se do seu rosto. Um fio eléctrico percorreu todo o corpo daquele homem seguro, confiante, experiente. Não percebia o que lhe estava a acontecer.
Foram-se passando os dias, as semanas, os meses… Havia sempre mais uma história, mais um sonho para partilhar. Agora, também ela contava as suas histórias e gostavam um do outro.
O Inverno aconchegou-os ao calor de uma lareira. As histórias ganhavam vida, cor, ternura. Partilhavam segredos, confissões, desabafos. Aqueciam-se em noites frias, longas, trocando o sono pelo prazer da companhia. Liam livros, cantavam canções e recitavam poemas um ao outro.
Chegou a Primavera e descobriram que, para além das histórias, algo mais forte os unia. Agora, diziam-se irmãos. Brincavam de mãos de dadas e trocavam os mais insignificantes presentes, como se de tesouros se tratassem.
Sentiam a falta um do outro e faziam de tudo para estarem juntos. Saboreavam cada segundo, como quem saboreia o prato favorito ou aquele bolo especial.
Então veio o Verão e, numa noite quente, apenas com as estrelas como tecto as suas bocas uniram-se. E aquele instante criou uma nova história.
Amavam-se.
E começou uma nova descoberta. Com a caneta do amor, os seus corpos escreveram um livro único e irrepetível. Uma obra-prima de sensações e momentos de felicidade suprema.
Veio um novo Outono e viajaram ainda mais longe. Descobriram que podiam amar-se sem limites, que podiam fundir os seus corpos num único, descobriram que a noite não tem fim.
Hoje, mesmo depois de entregues ao prazer, mesmo rendidos à loucura dos sentidos, continuam a partilhar flores no jardim, a trocar mimos e a sorrirem inocentemente como naquela primeira tarde de Outono.

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