Num Verão não muito distante, de largos dias de Sol e calor, mais ou menos abrasador, teci um chapéu.
Lindo, de enormes abas, cuja sombra se estendia a perder de vista.
Debaixo dele, muitos se apressaram a enfiar… Afinal de contas, o chapéu era mesmo grande.
Porquê? Não sei…
Então fui ver o que faziam os hóspedes do meu chapéu.
De imediato, fui atraído pelo cheiro suave de um cachimbo. Fumar mata, mas morrer a fumar cachimbo dá outro estilo.
Encontrei algumas jovens, bem roliças, que retocavam a maquilhagem e trocavam típicas cusquices femininas.
Encontrei boémios e poetas da Super Bock, ou Sagres, ou outra coisa qualquer, desde que devidamente fermentada.
Encontrei, num canto mais selecto, alguns doutores, com ar grave e compenetrado, roupas caras “à José Mourinho”, lendo e estudando relatórios e planos, falando numa língua desconhecida. Contudo, seria capaz de jurar que as meninas dos seus olhos eram cifrões, à guisa de cómicos bonecos de desenhos animados.
Encontrei pessoas perdidas, desnorteadas, que pareciam não saber muito bem onde estar, talvez ofuscadas pela sombra do meu chapéu.
Encontrei zombies, seres completamente descerebrados e desprovidos de vontade própria. Deambulavam de olhares esgazeados, como se fossem empurrados pelo vento.
Encontrei jovens atrevidos, que fugiam dos futuros sogros, irados pelos abusos às suas jovens donzelas.
“Fogo… o chapéu é mesmo grande”, pensei…
Continuei a caminhar e cheguei ao recanto mais escuro e sombrio de onde emergia uma luz azulada.
Vi alguém com o rosto cheio de ódio e que tinha à sua frente um computador.
No ecrã estava aberto o Hi5 e o desconhecido ia vendo detalhadamente as páginas pessoais de cada um dos habitantes do meu chapéu. Estavam ali todos.
“Meus, são todos meus…”
“Tem a certeza que deseja apagar os registos seleccionados?”
OK.