António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

No Porto só festejamos títulos

Maio 17th, 2021

(mesmo quando não nos deixam… outros têm melhor sorte)

É esta uma das maiores Heranças da História Nobre de uma Cidade com mil anos, Invicta, cujo brasão “abençoado” o Clube orgulhosamente ostenta. O Clube, um dos baluartes de um Povo (“aqueles lá do Norte”) que, em pleno século XXI, ainda tem que gritar para ser ouvido. No Desporto, na Política, na Economia, num país demasiado pequeno para ser tão inclinado. Outros quinhentos, ou não.

 

Por aqui, ser segundo não é opção. É igual a ser último.

 

“É azia”. Sim, muita azia e quem não sente azia “não é bom chefe de família”. Não é mau perder. É ficar chateado (para não dizer outra coisa) por perder. Essa azia, acaba por ser o motor dos vencedores, ou, dos que ganham mais vezes.

 

É assim que os portistas se sentem quando perdem. Como se fossem o último, como se descessem de divisão para o 9º Círculo do Inferno. E, depois de cair, queremos logo levantarmo-nos e levar tudo à frente. É o célebre “Grito de Revolta” de 2010/2011, último campeonato do Porto que me “soube bem”, como uma boa francesinha, ou pratada de tripas. André Vilas Boas, ainda a meio dos festejos dizia “agora, vamos ser campeões sem derrotas” e foi. A diferença entre os que perdem de vez em quando e os que ganham de vez em quando.

 

A partir daí, é tudo tremoço.

 

2020/2021.

 

Porto, clube sitiado (como foi sitiada a Cidade pelas autoridades, aquando dos festejos do título passado): pelo plantel dos 100 milhões, pelo Jesus que nos ia fazer “borrar de medo”, pelas “Varandas” da antiga bazófia marialva, pelo cinismo da falsa modéstia e por uma comunicação social ao serviço da Segunda Circular.

 

Até os auto apelidados “Guerreiros” (lol) do Minho, resumiram a sua “promissora” época a 3 jogos com o Porto no início do ano. Em campo, jogaram como cães raivosos, sedentos de sangue. Pouco tempo depois, pouco mais foram que caniches inofensivos. Entrem, entrem… “mi casa es su casa.” Caiu a máscara a Carvalhal.

 

O Porto, equipa esfrangalhada, pelos jogos de 3 em 3 dias, pelas entradas assassinas dos adversários, pela exigência de alguém ter que representar Portugal decentemente lá fora.

 

E, quando Portugal em coro declarava amor incondicional à Juventus das “Dolores” desta vida, Sérgio Oliveira deu um pontapé na inveja lusitana e meteu-a (a bola) lá dentro. O mesmo Sérgio Oliveira que dias antes tinha sido arrastado na lama pela imprensa. 

 

Como foi e continua a ser Francisco Conceição, que até na Selecção Nacional é gozado pelos do costume. Abutres.

 

Abutres que amplificavam ao infinito uma agressão a um jornalista, por alguém que nem funcionário do clube é. 24 horas depois de, em Braga, um funcionário de um dos clubes de “Lisbon”, erguer-se em fúria para agredir um sexagenário. Mas isso, os abutres fingiram não ver. Passou. Acontece.

 

Enquanto isso, a imprensa estrangeira continuava a elogiar o Porto, colocando-o como merecedor das meias-finais da Champions. E, por falar em Champions, não deixa de ser engraçado que a única equipa que bateu o pé aos dois finalistas britânicos foi o mal amado Porto. “Contra os Bretões, marchar, marchar”, dizia a versão original do nosso Hino.

 

Trambolhão, atrás de trambolhão, o Porto viu um jogador seu sair de ambulância do relvado e outro ser expulso porque, pasme-se, rematou à baliza. Curioso desporto este, de 90 minutos, onde tantos jogos são ganhos nas horas extra. É a resiliência. A estrelinha, o querer, a vontade.

 

O primeiro lugar até ficou perto, para espanto e fúria do Terreiro do Paço e dos avençados arautos. Então, a Santa Aliança saiu das sombras e todos perceberam o desígnio nacional de ter “Lisbon” no topo.

 

Mas quem cai, por vezes, fica no chão a atrapalhar e nem uma mal ensaiada peça de teatro no teatro da Luz, também conhecido como Salão de Festas, local com crónicos problemas de iluminação e canalização, impediu os “Andrades” de figurarem no segundo lugar, a meter nojo. Tanta discussão sobre a guarda de honra e esta foi feita ao contrário.

 

No Porto só festejamos títulos (mesmo quando não nos deixam… outros têm melhor sorte).

 

Mas, depois de uma época que foi uma guerra constante, este segundo lugar é um milagre.

 

E, se os portistas pensam que acabou, desenganem-se. Está apenas a começar… 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.