António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Dias do fim – parte 8

Maio 24th, 2020

Fascinadas com as novas tecnologias, muitas bandas filarmónicas ainda andam aprender a lidar com isto. O COVID lixou um bocado a coisa e, na impossibilidade de comunicar os serviços que se fazem, comunica-se o que se iria fazer. Percebo, mas não entendo.

O que percebo e entendo muito bem é que, com o desconfinamento em curso, desmantelam-se os arco-íris, acabam-se os gestos de fraternidade e solidariedade e ‘bora de novo para a barbárie. A teoria de que seríamos todos melhores seres humanos depois disto, cai por terra como o Neymar numa disputa de bola. Cai, rebola e contorce-se. A Humanidade sempre foi assim. Iria mudar, de um dia para o outro, por causa de uma virose?

É como no Natal.

Ainda no Natal passado, mesmo na véspera, li no facebook uma das inúmeras mensagens de Paz, Amor, Solidariedade… bla, bla, bla… Era uma mensagem bonita, bem estruturada e com uma mensagem bastante positiva.

Concentrei-me nessa mensagem em concreto, não muito diferente das demais, mas concentrei-me precisamente nessa. Li, reli e meditei.

Meditei sobre a mensagem e sobre quem a escreveu. Procurei, afincadamente, não censurar ou julgar. Mas…

“Das duas, três.”

  • ou, a pessoa é tremendamente hipócrita. Não me parece…
  • ou, a pessoa não tem noção da maldade que faz. Talvez…
  • ou, a pessoa acha que a maldade que faz, não é maldade, é o correcto e, por isso, continua de consciência tranquila. Parece-me a hipótese mais viável.

E, no fundo, é isso mesmo. Acho que, a maioria de nós, quando tem uma atitude menos correcta, não o faz por mal, mas porque acha que está certo. Daí, os remorsos chegarem tarde, ou nunca chegarem.

O arrependimento, para muita gente, é algo difícil. Assim como o perdão. São gestos encarados como sinais de fraqueza. Eu acho exactamente o contrário. É preciso muita coragem para arrependermo-nos dos nossos actos e perdorarmos quem nos fez mal.

Voltando ao desconfinamento, instalado um clima de maior segurança e, aparentemente, tendo passado a tempestade, já podemos todos voltar a ser umas bestas, porque afinal não vamos morrer e o Céu, ou o Inferno, ainda estão longe…

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.