António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Crestuma no mapa

Novembro 28th, 2007

Aviso já: este será um texto polémico e poderá chocar algumas pessoas.

Depois dos confrontos por causa da barragem, depois da polémica sobre o centro de estágio do FCP, Crestuma volta a ser alvo da comunicação social, devido à morte trágica do Sérgio Pedrosa.

Ontem, ao ver na televisão as diversas reportagens sobre o funeral, não pude deixar de ficar chocado. Não pela dor da família, não pelo ambiente gélido nos rostos das pessoas, mas pela a freguesia em peso ter acorrido às cerimónias fúnebres.

Grande parte das pessoas (a maioria, espero eu!), participou no funesto evento por solidariedade para com a família. Contudo, acredito também, que muita gente estava lá pela simples curiosidade mórbida, tão típica do povo português. A mesma curiosidade mórbida que nos faz abrandar (ou até mesmo parar!) quando vemos um acidente na estrada.

Muitos outros estavam lá, porque sabiam que as televisões iriam lá estar também. Outros estavam lá, simplesmente, para ver todo o aparato das honras militares. Outros foram à espera de ver algum ministro ou figura pública.

Crestuma é uma freguesia dormitório. A maior parte da população estuda ou trabalha fora.

É uma comunidade difícil de unir e mobilizar. O frágil clube de futebol ameaça desaparecer a qualquer momento; outras colectividades vão sobrevivendo graças à precisosa colaboração de pessoas de fora; a festa da Padroeira é sempre organizada nos limites e com um esforço financeiro enorme; as tradições vão-se perdendo, porque cada vez mais, Crestuma diz menos aos seus habitantes.

Contudo, ontem Crestuma uniu-se.

A população saiu à rua. A Igreja, tantas vezes vazia, principalmente nas mais importantes celebrações religiosas, encheu-se. O jazigo construído pela Junta de Freguesia, destinado inicialmente aos autarcas, abriu-se para o jovem Sérgio Pedrosa.

Seria interessante que esta união fosse algo de mais constante e em torno de acontecimentos mais positivos e construtivos.

Gostava de ver a minha terra unida em volta de sorrisos e não num banho de lágrimas.

Gostava de ver as autoridades lado-a-lado com a população noutros momentos para além das cerimónias oficiais.

Gostava de ver a Igreja cheia mais vezes…. na Páscoa, no Natal, na Quaresma e no Advento.

Gostava de ver a população sair à rua na Santa Marinha, no concerto da Banda, nas actuações dos Ranchos…

Gostava que não fosse preciso morrer ninguém para voltarmos a aparecer no mapa.

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