António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Até comi um gelado!

Março 1st, 2020

Sempre que passo junto à Estação de S. Bento, no Porto, sou assaltado por uma daquela memórias boas da infância, aquelas recordações doces, que nos fazem ter saudades da meninice e, o meu caso, muitas saudades da minha Mãe.

 

Há mais de 30 anos, Crestuma ficava muito longe do Porto. Os escassos 20km, que hoje em dia completamos em menos de meia-hora de carro, demoravam uma eternidade a percorrer de transportes públicos, principalmente quando a “carreira” ia pela “estrada velha”.

 

Por isso, “ir ao Porto” era uma aventura, um acontecimento até com direito a vestir a roupa domingueira.

 

Devia ter uns 4 ou 5 anos. Não me recordo de tudo, apenas da pequena sala de espera. Eu ia ao “doutor”, algo demasiado frequente nos meus primeiros anos.

 

Lembro-me de aquele desconhecido doutor me pedir para olhar para uma máquina, para ver se os meus olhos estavam bons. E estavam.

 

“Não temos carreira agora para ir embora, temos que esperar. Vamos comer, ‘que tu deves estar com fome.”

 

O Porto para mim, à época, era uma amálgama confusa de pessoas, carros e os trolleys que eu adorava.

 

No meio do turbilhão de sons, cores e imagens, lembro-me do rebuliço da Estação, gente de um lado para o outro e da máquina de assar frangos. A minha Mãe comprou um frango e sentou-me naquelas escadas voltadas para a Mouzinho da Silveira.

 

“Sentadinho. Quietinho!”

 

De seguida, pegou no meu lenço da mão, abriu-o sobre as minhas pernas e, aos poucos, ia lá pousando pedacinhos de frango para eu comer. Sentou-se ao meu lado e comeu também. No fim, deu-me um gelado, um “Flash Cola” (disso lembro-me perfeitamente!).

 

Não tenho ideia quanto demorou aquele momento sentado nas escadas a comer frango assado mas, para mim, é eterno. Mais de 35 anos depois, sempre que passo naquele local, recordo todos estes gestos e todo o carinho da D. Irene. Até tive direito a um gelado!

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.