(texto publicado originalmente no Facebook, a 8 de Abril)
Carreguem no play e fechem os olhos. Tarde de Agosto, sol, calor, mangas arregaçadas, colarinhos abertos, o almoço ainda não foi totalmente digerido. Burburinho no público, carros de choque ao fundo, povo que chega para a procissão e, de repente, TA-DAAAAAAAAA, solta-se a furiosa anacruza dos “Ares de Espanha”, pasodoble bem português, ou marcha de concerto, que serve de andor a um melódico solo com cadenza de trompete, à guisa da vizinha Espanha.
Em finais dos anos 90, se eras “atacado” com “La Virgen de La Macarena”, só podias responder com a icónica marcha de Ilídio Costa. A coisa não podia ficar por menos.
Todos nós, filarmónicos, mesmo quem não aprecia as suas obras, mesmo quem, num passado recente, teceu comentários pouco educados sobre ele, devemos muito a Ilídio Costa. Pouco antes do país entrar em confinamento, tive o prazer de ser ensaiado e dirigido por ele e, acreditem, todo ele É Música. Mas, sobre isso, falarei noutra altura.
O importante, agora, é desfrutar da sua música, infelizmente, cada vez mais relegada para o fundo das pastas e dos arquivos.
É verdade que, actualmente, há muita variedade neste estilo de reportório, mas os “Ares de Espanha” continuam a ser um marco que merecia ser tocado mais vezes.