António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

A solidão e a dor de ser líder

Novembro 11th, 2008

Muita gente ambiciona ser líder. Fazem de tudo, por vezes das formas menos correctas, para chegar ao poder. A maior parte dessas pessoas, não faz ideia do que é ser líder.
Não imaginam quantos são os momentos de sofrimento e a solidão. Não imaginam o que é ser o pivô de um mecanismo que não pode empancar. Não imaginam como é difícil tomar decisões que vão causar dor e sofrimento a alguém.
O líder tem que trilhar um caminho e fazer os outros percorrê-lo. Mas, quantas vezes, esse não é o caminho correcto? Quantas vezes, ao pensar que estamos a guiar as nossas ovelhas por uma verde pastagem, estamos, na realidade, a conduzi-las por um caminho doloroso e que as magoa.
Quando somos líderes, temos que despir a nossa pele e vestir a pele do líder. Temos que agir para que o grupo defina, interiorize e atinja determinados objectivos. Temos que pôr o grupo à frente da nossa própria identidade. Mas poderemos abstrair-nos daquilo que na realidade somos, quando vestimos a pele de líder?
Será alguém tão frio que consiga ocultar os seus valores para assumir inteiramente os valores do grupo? E quais são os valores do grupo? Serão os valores impostos pelo líder, ou uma soma dos valores de todos os seus elementos?
Desde que me foram confiados papéis de liderança, que na minha pente burila a mesma dúvida: devo tratar todos os membros do grupo da mesma maneira, ou gerir cada relação como única?
O meu primeiro instinto e a tese defendida por aqueles que me são mais próximos é  que devo agir da mesma forma com todos, doa a quem doer. Foi esta a postura que adoptei no passado e que me trouxe muitas noites sem dormir e intensos amargos de boca. Será porventura a postura mais justa, mas aquela que cava um fosso entre o líder e liderados.
Meio perdido, fui procurar o meu caminho. Pedi ajuda a líderes mais experientes. Eu via-os a actuar e pensava “oh, que segurança… oh, que determinação”, mas descobri que tinham os mesmos problemas que eu.
Ensinaram-me a medir as situações. A reacção deve ser consoante o agente que a provoca. Mas isto não criará um sentido global de injustiça no grupo? “Porque é que ele não trata toda a gente da mesma maneira?”
“Porque é que não tratas todos da mesma maneira?” perguntei eu. E responderam-me: “Porque todos vocês são diferentes. Há pessoas com quem tens que ser duro; outras com quem tens de ser brando; outras a quem deves chamar à atenção em público; outras em privado. Mas, lembra-te: a estabilidade do grupo sempre em primeiro lugar, mesmo que isso te custe o orgulho próprio”.
Esta conversa decorreu durante um almoço em que pouco comi, pois o meu estômago reproduzia as voltas e voltas que me iam na cabeça.
No fundo, ele tinha razão. Há que medir as pessoas e agir em conformidade. Mas aqui surge outro problema: como medir as pessoas?
E é aí que os líderes cometem mais erros. Muitas vezes não avaliam da melhor maneira as pessoas que têm ao seu encargo, principalmente porque o fazem à luz dos seus próprios valores. Este juízo errado, faz com que, sem o saberem, atinjam as pessoas na sua dignidade e criem verdadeiras situações de injustiça.
Parece simples, mas não é. É difícil e é doloroso, principalmente quando do outro lado estão pessoas que consideramos amigas, com as quais sorrimos, com as quais choramos e com as quais partilhamos deliciosos momentos.
E são essas pessoas que gritam: “Hey! Não é por aí! Estás num beco sem saída! Volta para trás que eu ajudo-te a encontrar o caminho.”
Obrigado.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.