António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Ainda sobre a abstenção

Maio 29th, 2019

Ponto prévio e para que fique já claro: acho que toda a gente deve votar e exercer a sua cidadania.

Contudo, mete-me impressão a facilidade e displicência com que os abstencionistas são julgados e condenados (e até insultados) em praça pública.

Por isso, e como no passado Domingo fui abstencionista por me ter informado mal sobre o voto antecipado, partilho convosco algumas opiniões sobre a abstenção, desmontando algumas das críticas feitas a quem não vota:

1 – “A abstenção é uma falta de respeito para com a democracia”

Não, não é. A Democracia deu-nos a liberdade de escolha. E há quem escolha não votar. Se até os deputados, na Assembleia da República, muitas vezes se abstêm em votações importantíssimas para o nosso País, porque é que o comum dos mortais não se pode abster?

Por outro lado, conheço muito boa gente que vai votar em todas as eleições, mas no fundo lida muito mal com a ideia de Democracia.

A Democracia não se resume ao voto.

2 – “Quem quer mudar as coisas deve ir votar”

Pois… por isso é que somos governados pelas mesmas caras, pelas mesmas cores, desde o 25 de Abril. Irónico mesmo é o partido que, por três vezes, levou o país à bancarrota, com as consequências que todos nós sabemos, continuar a ser o mais votado.

3 – “Quem não vota, não tem direito a reclamar.”

O tanas! Independente de votarmos, ou não, todos pagamos impostos, certo? Como eu li numa conhecida página do Facebook “a abstenção não me isenta de pagar impostos.” Portanto, qualquer português, que cumpra com as suas obrigações fiscais, independentemente de votar, ou não, tem direito a reclamar, sim, porque é o nosso dinheiro e o nosso trabalho, não o nosso voto que estão em jogo.

4 – “Quem se abstém são pessoas mal informadas”

Generalização. Conheço muita gente que se abstém deliberadamente e conscientemente e que, ao mesmo tempo. é muito bem formada e informada.

Já agora, tu que foste votar, conheces os nomes dos eleitos pelo partido onde puseste a cruzinha? Leste o respectivo programa eleitoral? Ou só votaste porque vês o partido como um clube de futebol?

5 – “O voto serve para garantir a democracia!”

Exacto. Por isso é que um “democrata” como o Bolsonaro está no poder no Brasil, vencendo umas eleições em que só houve 20% de abstenção. E o Trump não caiu do céu na Casa Branca.

6 – “Ao votar estamos a escolher quem nos Governa”

Errado. Tu escolhes um partido. As pessoas são escolhidas pelas máquinas partidárias e, como já se viu, a competência não costuma ser critério de primeira linha. Valem mais os laços familiares, as “cunhas”, as influências…

7 – “Quem não quer votar em nenhum partido, pode votar em branco.”

Esse argumento faria sentido se os votos em branco tivessem algum tipo de valor, por exemplo, considerando-os como se fossem um partido e atribuindo-lhes os respectivos mandatos, ficando posteriormente as cadeiras vazias. Aí, sim, o voto em branco faria sentido.

Nas eleições do passado Domingo houve mais votos em branco do que na CDU, no CDS e no PAN. Não é ridículo para estes partidos? Seria, se os votos em branco tivessem algum tipo de valorização.

É claro que, se todos votássemos, talvez as coisas fossem diferentes, mas ninguém pode afirmar que seriam.

Gostava de ter ido votar no Domingo, para dar o meu voto a um partido novo, que me tem atraído pelos seus ideais, desde que nasceu. Não foi possível. Não votei porque não pude, há quem não vote porque não queira e há quem não vote porque se está a marimbar.

Contudo, acho que a reflexão e a análise crítica deve ser feita sobre o sistema e não sobre os abstencionistas.

Simplesmente chamar “burro” a quem não vota, não resolve nada e é, ironicamente, anti-democrático.

Ponto final e para que fique definitivamente claro: acho que toda a gente deve votar e exercer a sua cidadania.

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.