Não vos vou falar da canção de Simon & Garfunkel, ou da frase do Abrunhosa que diz que “o silêncio é a mais perfeita forma de música”.
Vou-vos falar de como, por vezes, faz bem ir para um canto, longe do ruído e desligar, espreitar o Mundo por cima das lentes dos óculos.
Desligo as vozes dentro da minha cabeça, os lembretes, os emails, as mensagens, a explosão de sons e imagens derramadas permanentemente sobre mim. Liberto espaço no “disco rígido”.
Ao “ouvir e calar” eu prefiro o “nem ouvir”.
Silêncio.
Leio o chorrilho de disparates que se escrevem nas redes sociais (principalmente agora, em campanha eleitoral, onde todos ralham e ninguém tem razão) e ignoro, deixo a caixa de comentários em branco, deixo-os sozinhos com os seus disparates. Todos. Os disparates e os seus autores. Matem-se uns aos outros. E, se por distração, escrevo um comentário, a seguir, apago-o, porque os haters são mais rápidos que o Lucky Luke
Silêncio.
Não comento futebol, o que implica o silêncio mesmo na hora da vitória do meu clube, ou daquele “roubo de sacristia”. Guardo o ruído para o Estádio. Golo!
Silêncio.
Na máquina de café. Beber mais um gole. “Hmmm, hmmm… exacto. Desculpem, tenho muito que fazer.”
Este silêncio que, por norma, aprendemos a compor com a idade, é uma sinfonia perfeita. Dá-me paz, serenidade e anos de vida.
É, quase sempre, a melhor resposta à imbecilidade e a quem não está disposto a ouvir o outro lado. Aqueles para quem a empatia é apenas uma palavra bonita para as stories.
Para construir o silêncio, não preciso de partituras ou instrumentos. Mas um bom livro ajuda, fones com boa música (e não estou a ser irónico), ou apenas a ternura de uma criança.
Porque o silêncio não é só a ausência de som. É um estado de espírito. Um modo de vida. Um olhar sobranceiro e, até mesmo, arrogante sobre o Mundo. “Sambando na lama de sapato branco.” Ou, como dizia alguém, “subir para o muro e cruzar os braços”. Deixar a terra ruir.
Não é tarefa fácil. Os meus instintos levam-me, frequentemente, a cair na tentação de fazer ruído. Responder, contra-atacar, erguer os braços e cerrar os punhos. “Toma que já vais levar!”
Aqui há uns anos, um dos meus haters favoritos dizia que eu era (sou?) um provocador.
Numa sociedade civilizada, deveria ser simples e banal dizer o que pensamos. Mas na sociedade moderna, por suprema ironia da evolução da espécie humana, o civismo é sinal de fraqueza e ser simpático sinal de fragilidade. Mas, sobre isso, falarei noutro texto.
A espécie humana que povoa a terra em pleno século XXI, gosta mesmo é de barulho. “Sai daí e vamos mas é andar à porrada!”
E todos sabemos quais são as consequências, mas todos continuamos a ceder.
Porque o som do silêncio é tão forte, que poucos o conseguem ouvir.