António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Querido Porto

Maio 10th, 2017

Querido Porto,

Já chega. Foram 4 anos de sofrimento e dor. Sei que vais dizer que, no passado, foram muitos mais. É verdade, mas esse passado é longínquo. Um passado no qual o Campeão era sempre um de dois e os outros clubes estavam lá para enfeitar.

Houve uma madrugada que mudou o País e mudou isso também. E nós mostramos que havia Portugal para lá de Lisboa.

Mas a coisa tem corrido mal e os adeptos já não aguentam mais.

Dói muito.

Os outros ainda não ganharam o campeonato deste ano e já andam de peito feito. Vamos ter que aguentar com eles, mais um ano. E, acredita, é a parte pior de perder.

E a culpa é tua! Só tua! O apoio dos adeptos, esta época, foi incondicional e extraordinário. E tu teimas na auto-destruição.

Mas nós continuamos a acreditar em ti e, por isso, fazemos uns pedidos para a próxima época:

1 – A começar por aí: a próxima época. Prepara-a! As últimas quatro épocas ou, não foram preparadas, ou foram preparadas em cima do joelho. Não se sente um rumo, um fio condutor, a não ser obter lucro da venda de camisolas. (e, por falar em camisolas, aquele castanho… nunca mais, pá!);

2 – Dá jeito ter um treinador. Alguém respeitado pelos jogadores, admirado pelos adeptos e temido pelos adversários. Já tivemos tantos assim. É difícil encontrar outro?

3 – Queremos jogadores “à Porto”. Já sei que isso é um lugar comum, mas tu, meu Porto, pareces esquecido. Um jogador “à Porto” não é aquele que enche as redes sociais de bonitas hashtags. Não é aquele que vende muitas camisolas. Não. É um que dá o que tem e o que não tem em campo. É um que não festeja um 3º lugar, nem sorri depois de ter perdido o campeonato em casa do maior rival, nem troca camisolas como se nada fosse. É um que chora e sofre como nós! Temos muitos assim nas equipas de Andebol, Basket e Hóquei. E até acho que devemos ter alguns assim no plantel actual. Tu sempre os soubeste encontrar…

4 – Tens que voltar a perceber que isto é muito mais que Futebol. São 1.000 anos de História da nossa Cidade. É a permanente luta contra o centralismo reinante neste país, luta essa, da qual temos sido o principal expoente. Lembra-te que somos respeitados em todo o Mundo… excepto em Portugal e isso tem sido uma das nossas principais forças.

5 – Por fim, mesmo que não consigamos voltar a ganhar, pelo menos que fique a sensação que demos luta, que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, que fizemos o possível e o impossível.

Honestamente, a choradeira pelas arbitragens não nos fica bem. Isso sempre foi característica dos nossos rivais, que nunca nos souberam dar valor.

Este ano tivemos 10 empates! 20 pontos perdidos. Pensa onde estaríamos neste momento com esses 20 pontos, ou apenas com metade deles.

Este campeonato não foi ganho pelo Benfica… foi perdido pelo Porto, entregue de mão beijada! Chego a pensar que perdemos de propósito. E é isso que nos faz desesperar. Uma coisa é perder porque o adversário é superior. Outra coisa é perder por negligência.

Sinto que perdemos e ninguém se preocupa… a não ser os adeptos. Não há raiva, não há nervo, não há frustração… Onde andas, Porto?

Sei que muitos portistas vão ler isto e acusar-me de não ser um verdadeiro adepto, de não apoiar o Clube, bla, bla, bla…

Tretas.

Parece que agora o apoio vem por obrigação, que ninguém pode gritar “o Rei vai nu!”. Estamos mais preocupados em criticar uns aos outros, do que em ver o que, realmente, está mal…

Bolas… sou filho e pai de sócios do Porto. Cresci no Estádio das Antas e não me canso de defender o Porto. Mas chegamos a um ponto em que temos que pôr o dedo na ferida, se não continuamos na mesma… na mesma…

Querido, Porto:

Continuo, continuamos, a amar-te e a acreditar em ti. Mas precisamos de sentir-te connosco.

Para o ano há mais. Esperamos ver-te rejuvenescido, determinado e guerreiro.

É assim que te conhecemos. É assim que gostamos de ti.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.